domingo, dezembro 19, 2010

Formação: a panaceia

Não deixa de ser estranho o sentido de prioridade do actual Governo! De­pois de dez anos a proclamar o Turismo como motor da economia nacional é, no fim de mandato, que resolve lançar um programa de educação para o Turismo. Segundo a Inforpress, o programa a iniciar em 2011, será dirigido às escolas, aos operadores e às comunidades e visa sensibilizá-los para o desenvolvimento do turismo, para a qualidade na pres­tação de serviço e para a valorização do destino Cabo Verde. Semanas atrás, também com esse mesmo “fino” sentido de prioridades, pré-inaugurou a Escola de Hotelaria e Turismo, na Praia. A pressa e as iniciativas deslocadas são simplesmente actos de um governo que se vê em apuros pela falta de resultados com efeitos na vida das pessoas e pro­cura ganhar tempo e um novo mandato gerindo expectativas. Com a Escola de Hotelaria e Turismo, perdeu tempo a procurar localizá-la na Praia, supor­tando-se no argumento da população e descurando questões mais importantes para escolas vocacionais como o meio, a proximidade das actividades que irá ser­vir e a disponibilidades de profissionais e técnicos do sector como professores e formadores. Quanto à necessidade de criar uma cultura de serviço, num país que gritantemente a desconhece, optou por a ignorar. Deixou que a cultura ad­ministrativa e centralizadora ganhasse mais terreno em detrimento da cultura de prestação de serviços. Não admira que turistas e nacionais se queixem da qualidade dos serviços. Muito pouco se fez, ao nível institu­cional e de regulação, para motivar os indivíduos e a sociedade a exigirem mais, quando solicitam ou compram serviços, enquanto utentes ou clientes. Não se promoveu o civismo, seja nas relações interpessoais, seja na relação com a comunidade. E ficou por fazer a exaltação do que poderia ser a van­tagem dos cabo-verdianos: lidar com todos com a descontracção de quem não vê cor (color blind), não albergar preconceitos, nem alimentar sentimentos de inferioridade. Ainda, em relação ao Turismo, o Governo não foi ágil nem compreensivo em articulá-lo com a actividade económica nacional, provo­cando reacções negativas da população e de operadores económicos que fica­ram a ver “a banda passar”. E não é pela via da formação que se vai resolver o problema. Atitudes positivas emergem quando, por exemplo, as pessoas vêem oportunidades de investimento ou de negócios a surgir com o turismo e as empresas expandem o seu mercado de colocação de bens e serviços, criando mais emprego no processo. Mas isso, já se sabe, são matérias que o Governo do PAICV tem dificuldades em lidar. As seis equipas ministeriais em dez anos de governação são prova do desnorte no juntar das peças do puzzle económico. E sem visão, estratégia e sentido de oportunidade não há como convencer as pessoas dos benefícios do Turismo. Não descortinando como agir, mais uma vez o Governo agarra-se à ideia de dar formação para esconder que não tem outras para pôr a economia nacional a funcionar para as pessoas.

3 comentários:

Amílcar Tavares disse...

Caríssimo,

As minhas fontes dizem-me que não está correcta a afirmação de que se "...perdeu tempo a procurar localizá-la na Praia" pois, apesar do tremendo lobby feito para a levar para Barlavento, o financiador achou por bem localizá-la na Praia.

Cumprimentos.

Humberto Cardoso disse...

Leia o jornal a Nação n 132 de 11 de Março de 2010. Diz "Membros do Governo e responsáveis de outras instituições do Estado estarão a boicotar o desenvolvimento da Praia, através de um “lobby forte”, baseado no regionalismo.
A denúncia parte de um grupo de cidadãos praienses, que se apoia em documentos nos quais a ministra Sara Lopes e a deputada e ex-ministra da Educação, Filomena Martins, aparecem, supostamente, a criar entraves junto de organismos internacionais em relação a projectos já acordados para esta Região do País". Algures no texto, se não me engano, a Sara Lopes conta que se deixou convencer pelo Primeiro Ministro.
Cumprimentos

Amílcar Tavares disse...

Caríssimo,

Em boa verdade, incrédulo perante o desaguisado doméstico, o financiador resolveu a contenda com um estudo de viabilidade. Com o resultado do estudo nas mãos, o financiador sentenciou: ou é aquilo que foi ditado pelo estudo ou nada.

Esses são os factos.

Naturalmente, tudo aquilo que a nossa desgraçada, irresponsável e enviesada comunicação social diz sobre este e demais casos, são frivolidades.

Festas Felizes e votos de um 2011 memorável.