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Pela defesa do Poder Judicial
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Carácter em tempo de crise
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Revisão para o Futuro
Publicado no jornal ASEMANA de 26 de Setembro de 20091
sábado, julho 26, 2008
Humberto Cardoso na DN do MpD
Intervenção Direcção Nacional
Humberto Cardoso
26 de Julho de 2008
A 18 de Maio de 2008, o Movimento para a Democracia, MpD, alcançou uma grande vitória nas eleições autárquicas. 11 em 22 câmaras. A vitória eleitoral teve um sabor e um alcance muito especiais na Praia, em Santa Catarina e na Ribeira Grande de Santiago.
O partido está de parabéns. E todos os que se apresentaram nas listas do MpD merecem o apreço e a solidariedade do partido, dos seus militantes e simpatizantes. Nas câmaras conquistadas há que manter engajada a vontade política que propiciou a vitória. Disso depende a implementação do programa autárquico sufragado. Nessa tarefa, tem particular responsabilidade os presidentes da câmara, em estreita colaboração com as comissões políticas regionais e os eleitos nos órgãos municipais. Onde o MpD for oposição, desde já o partido deve apoiar os seus eleitos com vista a fazer não só uma oposição consistente e sistemática como também construir as bases de uma candidatura futura.
A vitória do MpD nas autárquicas pôs um fim ao entusiasmo sem limites que as hostes do PAICV vinham alimentando desde das eleições legislativas e presidenciais de 2006. Mais uma vez viram goradas as suas esperanças de confinar o MpD a um papel menor no sistema político caboverdiano. 18 de Maio veio confirmar outra vez o MpD como um grande partido caboverdiano. E o país suspirou de alívio. Ninguém hoje tem quaisquer dúvidas que alternativa de governação existe. Que o MpD é forte e é ganhador.
O quase desespero que assolou as fileiras do adversário revelou um outro efeito dos resultados eleitorais: é limitada a influência do Governo sobre o comportamento dos eleitores nos municípios. As eleições têm de facto um carácter marcadamente local e só conjunturalmente reflectem desagrado com políticas governamentais. A direcção do PAICV alimentou expectativas que, por exemplo, a má gestão camarária na Praia e em Santa Catarina não seria um obstáculo. Que faria passar sem problemas expressões da sua própria arrogância como as propostas de candidatos para Boavista, Sal e S.Vicente. Enganou-se. Acreditou na sua própria propaganda e publicidade enganosa: Acreditou que asfalto, estradas e aeroportos, parceria especial, Nato, graduação para país de rendimento médio etc. garantiriam a seu favor as eleições.
O problema é que os cidadãos não viram nas suas vidas, nos seus rendimentos e nas suas esperanças de futuro os resultados dramáticos, que tanta publicidade do governo anunciava e prometia. Pelo contrário. Sentiram o efeito do desemprego, não obstante os milhões de que todos os dias a rádio e a televisão falam. Viram jovens sem perspectivas, apesar dos fora, workshops e seminários que se debruçam sobre a necessidade de qualificação profissional. Sentiram na pele a total fúria dos aumentos de alimentos, combustíveis, energia e água sem que o governo mostrasse visão, políticas, estratégias e medidas concretas para enfrentar a nova situação que desponta no mundo.
O Mundo mudou. Isso é hoje evidente para todos. A alta de preços de petróleo e de cereais veio para ficar. Os preços são mais voláteis e a possibilidade de escassez de produtos alimentares voltou a ser realidade. Factores geopolíticos, especulativos e particularmente a grande demanda dos países desenvolvidos emergentes, os chamados BRIC, Brazil, Rússia, Índia e China, imprimem uma outra dinâmica ao mercado mundial onde não está ausente a insegurança, as tentações de proteccionismo e a possibilidade real de uma marcha atrás no processo da globalização. Aconteceu no passado. Pode voltar a acontecer.
É neste ambiente de incerteza face ao novo que o MpD é chamado para dar um novo ímpeto ao processo da sua credibilização como alternativa de governo. Nesse processo terá de confrontar-se designadamente com o seguinte:
O Governo do PAICV, ao longo desses anos, não cuidou de preparar o país para fazer face a choques externos. A reforma do Estado ainda está por fazer.
A base da economia afunila-se para se sustentar essencialmente no turismo. A indústria foi-se e o propalado aproveitamento da situação geo-estratégica do país na criação de hubs continua a ser uma miragem
Os investimentos não criam trabalho em número suficiente para combater o desemprego
As exportações não crescem e não se diversificam no ritmo que a sustentabilidade a prazo dos equilíbrios macroeconómicos exigiria.
O mercado de trabalho mantém-se rígido não diversificado, e não qualificado.
A educação não foi virada para a criação e sustentação de uma economia de base no conhecimento
O mercado interno nunca foi unificado e nem identificados os seus estrangulamentos e constrangimentos.
A agricultura, a pecuária e a agro-indústria tem poucas hipóteses com a persistência de um mercado minúsculo, fragmentado, inexplorado, pouco sofisticado e não regulado.
As infraestruturas construídas resultam mais de oportunismo político do que racionalidades económicas. Tem o potencial de se transformarem em elefantes brancos com consequências num endividamento desastroso do país.
A segurança, nem interna nem face a ameaças externas, designadamente tráfico de droga, pessoas e armas, teve a resposta adequada. Os níveis de criminalidade existentes retiram ao país muito da sua atractividade. Espantosamente, Sal, o centro do turismo no país, tem o segundo maior índice de criminalidade.
A credibilização do MpD como alternativa de governo passa também pela clarificação da sua matriz ideológica. As tentativas do PAICV, na sua movimentação para o centro político, de tornar o MpD redundante devem ser combatidas com criatividade nas propostas e firmeza nos princípios. As tentações internas de flanquear o PAICV pela esquerda devem ser contidas sob pena de descaracterização do partido face ao eleitorado.
O MpD é o partido da Liberdade. O MpD sempre acreditou que liberdade é liberdade individual e que ela é indissociável da dignidade pessoal. Assim como não há independência sem liberdade do indivíduo, também não se pode dizer que se está a lutar pela dignidade pessoal quando se insiste em políticas de subordinação ao Estado, se alimenta sentimentos de vitimização e se proclama como central ao desenvolvimento a procura e apropriação de ajuda.
Hoje sabe-se que sistemas redistributivos suportados por doações ou empréstimos concessionais não conseguem fazer chegar aos mais pobres os recursos suficientes e adequados a uma existência autónoma. Configuram sistemas de apropriação de renda por uma elite à semelhança dos sistemas rentistas nos países do petróleo. E lá como cá não só não conseguem combater a pobreza como criam desigualdades gritantes e abrem caminho à corrupção. Para os que querem ir por uma outra via, o exemplo de mais 200 milhões de chineses a ascender à classe média na sequência de anos de crescimento económico mostra qual o caminho a seguir.
Toda a gente sabe que os mais carenciados e vulneráveis na sociedade caboverdiana tendem a apoiar o MpD. Pode parecer um contra-senso o facto de não se identificarem com partidos de esquerda. O facto é que, por experiência própria, sabem que o sistema económico redistributivo do Estado não é a solução permanente para os seus problemas. Têm fé que o desenvolvimento da economia pode fazer-lhes erguer da sua actual condição e aspirar a uma vida digna e a um futuro de prosperidade para eles e os seus familiares. Já viram sinais claros disso na década de noventa.
O MpD não deve defraudar os que nele acreditam. O MpD deve sempre ser capaz de demonstrar de que o desenvolvimento e a felicidade podem ser atingidos trilhando o caminho da liberdade e de dignidade.
A vitória nas autárquicas atribuiu uma especial responsabilidade aos dirigentes e militantes do MpD. A responsabilidade de preparar-se para governar nos tempos exigentes de hoje e de conceber políticas inovadoras para que o Cabo Verde consiga enfrentar os desafios extraordinários de hoje com sucesso. Não vai ser tarefa fácil.
O orgulho em ser MpD, o orgulho em pertencer ao partido da Liberdade, o orgulho em partilhar da rica história de sucessos mas também de desaires e de tensões internas resolvidas na unidade de propósitos, o orgulho em transportar o legado do partido das ideias inovadoras e da ousadia na governação, esse orgulho deve motivar todos na caminhada até 2011 de mobilizar, consolidar e merecer, a todo o momento, a confiança dos caboverdianos.
Para melhor servir Cabo Verde.