Nº 563 • 12 de Setembro de 2012
Editorial:
Por onde pára a competitividade?
Há dez anos o Governo do dr. José Maria
Neves surpreendeu o país com a criação de um ministério da Economia e
Competitividade. A inovação na estrutura do governo fazia crer uma viragem na
estratégia de desenvolvimento. Aparentemente deixava-se de lado a via da
dependência e da reciclagem de ajudas a favor de um maior engajamento externo
da economia nacional. O relatório do Forum Económico Mundial sobre a
Competitividade, de 2012, ao colocar Cabo Verde no 122º lugar, entre 144
países, e a regredir em relação aos rankings anteriores pôs a nu o facto de que
as grandes metas traçadas para a competitividade do país não terem sido
cumpridas. Nesta matéria as políticas do governo revelaram-se um autêntico
fracasso. Em retrospectiva pode-se notar que muito do que se disse sobre a
competitividade não passou de marketing político e relações públicas. Por
exemplo, o Governo posto perante dois programas americanos, a AGOA e o MCA
entusiasmou-se por aquele, o MCA, que lhe facultava fluxos externos sem
necessidade de se provar competitivo na atracção de investimentos em sectores
virados para a exportação. Deixou que o sector crucial da energia e água se
tornasse no ponto focal de lutas ideológicas e politiqueiras. Anos consecutivos
de cortes de energia, de falta de qualidade da energia e água e de ausência
total de fiabilidade no fornecimento elevaram os custos destes dois
factores-chave a tal ponto que no sector de energia Cabo Verde tem uma
pontuação baixíssima, situando-se no lugar 135 em 144 países. O governo viveu
durante anos numa espécie de euforia sob o efeito da bonança em ajuda externa,
das novas receitas do IVA e do aumento do investimento directo estrangeiro
derivado do boom mundial. Até falou em “blindagem” quando veio a Crise. Talvez
pensou que essas condições iriam durar para sempre e que poderia adiar as
medidas concretas para tornar o país competitivo.O facto é que, não obstante se
terem sucedido no governo cinco ministros com a pasta da competitividade, a
luta por esse desígnio nacional nunca realmente arrancou. Como se pode ver no
relatório do FEM, esforços suficientes não forem feitos designadamente para
reformar a administração pública, para elevar a qualidade do ensino, para
estruturar e flexibilizar o mercado de trabalho e para desenvolver o mercado
financeiro. O acesso a linhas de crédito estrangeiro nos últimos anos alimentou
a ilusão de que a competitividade do país podia ser obtida via construção de
grandes infraestruturas. A experiência de Portugal demonstra como tais ilusões
saem caras. Não se priorizam sectores chave porque há mais ganhos políticos e
eleitorais com grandes obras mesmo sabendo que a maioria pouco acrescenta à
produtividade nacional. Os efeitos porém acabam por manifestar-se também a
nível macroeconómico com o disparar dos défices orçamentais e das
contas-correntes e o elevar da dívida pública ao limiar da sustentabilidade. É
essa a situação crítica que é espelhada no relatório do FEM que coloca Cabo
Verde na posição 138 e 123 respectivamente. A realidade actual do país e do
mundo não parece demover o Sr. Primeiro-ministro de fazer os mesmos discursos
nas inaugurações de infraestruturas. No Porto Novo voltou a repetir que
infraestruturas criam oportunidades. Com tal formulação passa ao sector privado
toda a responsabilidade de, posteriormente à obra, haver ou não dinâmica
económica. A percepção dos operadores é outra, como revela o relatório da
competitividade. Oportunidades só são reconhecidas por eventuais investidores e
empreendedores se um conjunto complexo de requisitos estiverem reunidos e se os
incentivos criados forem tempestivos e encadeados na sequência certa. .
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