É Carnaval.
Desfiles de grupos carnavalescos enchem de cor, alegria e gaiatice as ruas do
Mindelo. Milhares de pessoas, incluindo estrangeiros, chegam das outras ilhas e
de outros países para participar no Carnaval com maior tradição em Cabo Verde.
Muitos, já com os seus trajes, juntam-se ao Grupo Samba Tropical que este ano
comemora os seus 25 anos e cujo des-file nocturno já se tornou num grande
atractivo do Carnaval mindelense. A alegria e a boa disposição das pessoas não
provêm somente do ambiente de festas. Com a chegada dos “turistas” a economia
da ilha dá um salto e os efeitos do aumento do consumo são sentidos em todos os
sectores.
O impacto
do Carnaval na economia de São Vicente, à semelhança do impacto do festival da
Baía das Gatas e das festividades do fim de ano, faz relembrar a importância
central para o desenvolvimento de São Vicente que é a ligação com o exterior.
Mindelo nasceu com as vantagens ofere-cidas pelo Porto Grande no âmbito da
globalização iniciada no século de-zanove. Vantagens de momento, porém, não se
mantêm para sempre ou, se mantêm, ganham uma outra forma e importância.
Entrementes podem surgir outras que importa identificar, potenciar e agir para
as aproveitar. As dificuldades de São Vicente, expressas na elevada taxa de
desemprego, resultam da inexistência de uma liderança que faça essa
identificação e facilitação.
Ter a maior
taxa de desemprego do país é certamente motivo de lamen-tação. Do chefe do
governo espera-se que assuma a responsabilidade pelo fracasso, desajuste ou
extemporaneidade das políticas aplicadas que tão fracos resultados obtiveram.
Não se pode é atribuir subrepticiamente culpa aos desempregados pela sua
situação falando em preguiça ou lamentando que não são capazes de se auto
empregarem. Nem se pode também acusar rir
que algum “problema cultural” de pessimismo ou negativismo poderá estar a
impedir uma população inteira de aproveitar condições suposta-mente óptimas
para sacudir o marasmo económico e a falta de trabalho. Aliás, a existir algum
problema cultural, seria de todo o país porquanto o que se passa em São Vicente
acontece também nas outras ilhas.
O governo
escolheu assumir a crise quando os donativos diminuíram e a dívida pública
atingiu níveis críticos de sustentabilidade. Não ouviu os muitos avisos que
davam conta que a economia nacional era pouca di-versificada e não direccionada
para a exportação de bens e serviços. Não deu a devida importância à fraca
competitividade do país e ao ambiente de negócios negativamente afectado pela
burocracia e a centralização do poder. Conhecida como é a importância de
políticas voltadas para a expor-tação na criação de emprego, no aumento de
produtividade e na atracção de capitais externos, compreende-se por que uma
postura contrária e não facilitadora do governo provoca desemprego elevado,
crescimento anémi-co e tensões macroeconómicas graves.
Há quem
veja na regionalização o remédio para esses males. Regionalização significando
multiplicidade de centros de decisões e uma outra redistribuição dos fluxos
externos postos à disposição de Cabo Verde. Mas a problemática de
desenvolvimento talvez exija que se conteste o paradigma ainda predominante de
reciclagem da ajuda externa e se adopte uma postura virada para fora, atenta às
oportunidades e pró-activa na atracção do investimento externo. Os sinais de
que é o caminho certo vêem-se na dinâmica que o turismo e o investimento
externo trouxeram a várias ilhas não obstante os obstáculos, a insensibilidade
e a falta de coordenação das autoridades já identificados no estudo do Banco
Mundial divulgado por este jornal.
Sempre que
o Carnaval ou outro evento sacudir a vida da ilha, fizer cir-cular dinheiro e
animar os muitos sonhadores e aventureiros que ainda acreditam e investem, São
Vicente deverá relembrar que o futuro, assim como o seu saudoso passado, terá
que se basear numa ligação dinâmica com a economia mundial. E também ver que
não é solução virar para dentro, alimentar bairrismos e submeter-se a
políticas que trazem centraliza-ção e desincentivam o empresariado nacional. A
solução está à vista de todos. Agarrá-la porém exigirá que se vá para além do
ilusionismo político. Promessas de 13º mês, direitos na lei mas sem cobertura
orçamental e clusters criados de cima para baixo devem ser submetidos a um
escrutínio mais apertado. Quem se presta a servir, e recebe o mandato para tal,
tem que estar aberto a críticas, prestar contas e responsabilizar-se pelos
resul-tados da governação.
Humberto Cardoso
Editorial do Jornal Expresso das Ilhas de 12 de Fevereiro de 2013
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