Editorial Nº 568 • 17 de Outubro de 2012
Investir no desporto
A qualificação da Selecção de Cabo Verde para o CAN
2013 encheu de entusiasmo os cabo-verdianos. Não é caso para menos. Nem todos
os dias um pequeno país de 500 mil habitantes consegue pôr-se à frente de
países muito maiores em proeza atlética e desportiva. O sentimento forte de
união e de propósito manifestado nestes e noutros momentos de sucesso e
excelência devia ser tomado como um convite para os repetir com maior
frequência. O que destoa nestas demonstrações de unidade nacional é o
aproveitamento político feito por aqueles que acham que todo o momento é bom
para se fazer propaganda.
Em todas as eras a prática do desporto competitivo porque
pressupõe a aceitação de regras aplicáveis a todos, deu dois resultados
aparentemente contraditórios: propiciou oportunidades para a exaltação da
identidade de grupos e nações e reforçou a consciência da humanidade comum de
todos os homens. Guerras não foram eliminadas mas certamente que a progressiva
tendência para paz, constatada por vários estudiosos, também deve-se ao
aprofundamento da interacção entre as nações no âmbito de competições
desportivas. O contributo para a convivência pacífica não fica por aí. Também
se nota no impacto que o desporto tem na socialização de jovens e crianças.
A prática do desporto ajuda a absorver princípios e
valores como lealdade, honestidade, justiça. Fulcral para o sucesso é ter-se a
atitude certa. A tal que incentiva ao esforço e perseverança individuais, que
promove o espírito de equipa e que distingue quem merece. Não é pois
displicente o facto da prática desportiva ser aconselhada à juventude
particularmente nos anos críticos da adolescência. Aprendem a seguir regras,
absorvem valores e encontram nas equipas e clubes uma comunidade que lhes
acolhe, que lhes dá conforto e faculta-lhes a possibilidade de valorização e
reconhecimento social em jogos locais, nacionais e mesmo internacionais.
Cabo Verde depara-se com um sério problemas entre os
seus jovens, particularmente nas zonas urbanas. O número de organizações que
se autoproclamam de thugs é alarmante. Parece que a motivação de muitos jovens
para as integrar é a necessidade de se sentirem parte de alguma coisa. É
evidente que um esforço dirigido para organizar a prática desportiva poderia
canalizar muita energia jovem que por aí ainda à busca de escape, gratificação
e respeito e dar-lhe saídas legítimas. Uma política para o desporto nas escolas
serviria vários propósitos designadamente na socialização de crianças e jovens,
no desenvolvimento de várias modalidades desportivas e na descoberta de
talentos. Esses, devidamente enquadrados e treinados, podiam vir a revelar-se
profissionais de nível internacional e angariar fama e glória para o país.
No fim-de-semana passado foi a qualificação para o CAN
que galvanizou o país. No passado recente foram vitórias significativas no
basquetebol e no andebol. Em Junho foi a participação nos Jogos Olímpicos de
Londres. A exaltação nacional destes momentos deve conduzir a uma actuação
abrangente que ajude o país a identificar as vantagens já existentes e
potenciá-las. Vale a pena fazer um investimento sustentado para os que os
resultados e o sucesso sejam mais frequentes e permanentes.
A Direcção