quarta-feira, outubro 03, 2012

Urge um debate franco



Editorial Nº 566 • 03 de Outubro de 2012
Urge um debate franco
Entre 2012 e 2016 são quase quatro anos sem eleições. A ausência de pleitos eleitorais a curto prazo poderá constituir uma oportunidade para os partidos caboverdianos debaterem internamente e com a sociedade as opções, estratégias e visão do futuro que melhor respondam aos desafios dos próximos tempos. A pressão para o consenso interno será menor o que facilitará o esgrimir de opiniões diferentes no debate que se quer aberto, franco e suportado pelo factos.
A crise internacional trouxe muitas incertezas. Com a quebra já verificada nas transferências externas (remessas de imigrantes, ajuda pública e algum investimento directo estrangeiro) a dimensão da vulnerabilidade do país ficou exposta. Outrossim torna-se cada vez mais evidente a falta de preparação do país para enfrentar uma situação económica mundial recessiva que já se prolonga há cinco anos e que toca os principais parceiros comerciais e de cooperação. Os dados do INE sobre a evolução do emprego na última década deixam claro que a agenda de transformação do governo não resultou como prometido. Dez anos depois ainda não se chegou aos 8, 1 % de desemprego do ano 2000.
Aliás não foi só no emprego. Outros objectivos como energia, desenvolvimento do sector privado, unificação do mercado nacional, aumento das exportações, diversificação da economia e competitividade externa do país não foram atingidos. Mesmo na educação, em que um grande alarde se faz dos números de alunos, professores, escolas, liceus e universidades, há evidência da baixa relevância do que é ensinado e da discrepância entre a formação e as necessida­des da economia. As estatísticas do INE dão conta do maior desemprego entre os que detêm mais estudos e formação.
A conferência do PAICV do último fim-de-semana assi­nalou o início da sua reflexão interna. Mas para um partido no governo não é tarefa fácil debater livremente o país sem que críticas de fundo toquem na linha governativa passada e presente. Um exercício do género será sempre acompanhado de tensão porque, por um lado, quer-se dar estabilidade ao governo e por outro submeter as suas políticas a um olhar crítico. A tendência natural é que a preocupação com a esta­bilidade prevaleça sobre a crítica. A conferência ao confirmar a agenda de transformação do governo não obstante os seus resultados duvidosos em vários sectores demonstra isso.
O debate interno no MPD não terá os constrangimentos da governação mas dificilmente será separado do processo de renovação da liderança. A dificuldade estará em se manter a imagem de coesão do partido ao longo de todo um pro­cesso que também inclui duas convenções nacionais. O país ganhará se o debate for vigoroso, profundo e esclarecedor. A sociedade será estimulada e o governo e o PAICV obrigados a defender ou a rever as suas políticas.
Neste momento é essencial que o debate se faça. Muitos países já estão a fazer o seu debate interno, porque a percep­ção geral é que as relações económicas mundiais não mais serão as mesmas. Nuns, entidades internacionais como a TROIKA forçaram o debate e noutros, os políticos tiveram que se render perante o esgotamento do modelo seguido. Em Cabo Verde o debate tarda a começar e os prejuízos vêem- se na clara impreparação do país face a dificuldades trazidas pela diminuição de ajuda externa e pelas exigências da graduação a país de rendimento médio.
A Direcção




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