A transformação de Cabo Verde, apregoada pelo Governo do PAICV, falhou. O crescimento económico de dois dígitos não foi atingido. O desemprego nunca baixou ao nível do ano 2000. Muito menos chegou ao nível de um dígito prometido pelo Governo. A culpa não é da crise. O Governo foi imprevidente enquanto durou o tempo das vacas gordas. O rei vai nu apesar das vestimentas virtuais tecidas pela propaganda e pela manipulação despudorada da televisão estatal. Questionado sobre o desemprego o Sr. Primeiro-Ministro desculpa-se dizendo que é estrutural. Isso é confissão de fracasso. O estrutural não é fatalismo. Resulta de políticas e muda com políticas certas. A China, a India e o Brasil alteraram o estrutural, e os resultados vêem-se no crescimento e na diminuição efectiva do desemprego e da pobreza. Em Cabo Verde, as projecções oficiais e do PAICV de 1988 apontavam para 40% de desemprego em 1995. Alterações estruturais nos anos 90 como a implantação da democracia e a reestruturação da economia mudaram tudo. O País foi lançado para níveis de crescimento, dos mais altos de sempre, e o desemprego caiu até cerca de 17% em 2000. A incapacidade nos últimos nove anos em melhorar os índices de crescimento e de emprego prova que pouco se aprofundou na mudança do “estrutural”. Ficou-se, essencialmente, pela cosmética. O aproveitamento de oportunidades pecou por falta de estratégia. Para isso contribuiu a instabilidade do Governo no sector da economia. Já se vai na quinta equipa ministerial. Várias razões explicam o não aprofundamento das reformas. Empresários recentemente apontaram a ideologia, desconfiada e insensível em relação ao sector privado, como uma delas. Uma outra razão é a centralização do Poder. O Governo do PAICV quando forçado a escolher entre controlar ou facilitar o desenvolvimento, invariavelmente escolhe controlar. Praticamente, nenhum dos projectos imobiliários turísticos anunciados se concretizou. Ficaram pelo caminho a meio de questiúnculas de terrenos e obstáculos da Administração Pública. Ainda uma outra razão é a obstinação em controlar os recursos disponibilizados ao País. O Governo vê o desenvolvimento como uma dádiva sua às populações. Espera gratidão em retorno. É só ver o entusiasmo como se tem entregue ás linhas de crédito. Não parece importar-se muito que o crédito também visa subsidiar empresas portuguesas. Nem que o endividamento externo não compensa em empregos e em crescimento. O ganho político instantâneo de lançar pedras e inaugurar parece-lhe suficiente. Particularmente, quando na prática já terminou a legislatura sem ter cumprido as promessas fundamentais e importa agora fazer campanha, gerir expectativas e tentar mais um mandato. O impacto da má gestão, ontem e hoje, sente-se no desemprego excessivo dos jovens. O esforço na educação não foi acompanhado da criação de empregos à altura dos conhecimentos adquiridos e expectativas criadas. O desenvolvimento do capital humano em Cabo Verde não tem constituído um factor de atracção de investimentos. O Governo falhou em criar um sistema de ensino de qualidade. E a solução não é adiar o momento de desemprego para depois do ensino superior. Um ensino superior nacional a expandir demasiado rápido (vai em 8000 alunos) e a partir de um ensino secundário de qualidade duvidosa. É evidente que Cabo Verde precisa de mudar de atitude. Facilidades externas não devem reproduzir um sistema rentista que o País paga com desemprego de dois dígitos e muita pobreza. O Estado não pode ser usado para aumentar a dependência das pessoas delapidando o pouco capital social existente. Há que dar a maior importância ao capital humano, tendo como termo de comparação os standards mundiais em termos de competência linguística, matemática e ciências. A crise marcou o fim de uma era. O modelo económico e social actual falhou em garantir rendimento e na criação de emprego, mesmo em situação favorável. É urgente mudar. Cabo Verde precisa de uma nova liderança. Texto completo da intervenção no http://humberto.cardoso.googlepages.com/estadodanação2009(novaliderançaprecisa-s
Sem comentários:
Enviar um comentário