Nº 535 • 29 de Fevereiro de 2012
Editorial:
O poder do mercado é hoje por todos
reconhecido. Longe vão os tempos do fascínio pelas economias planificadas
modeladas nos planos quinquenais soviéticos. A China comunista descartou os planos
maoistas que a condenavam à miséria e entrou num ritmo de crescimento sem
paralelo na história da humanidade. A Índia, mais tardiamente, abandonou o s
constrangimentos dos planos e provou que podia crescer acima da chamada taxa
hindu onde décadas a fio parecia estar encalhada. A queda do Muro de Berlim, em
1989, abriu um novo mundo já rendido à crença na supremacia dos mercados. Cabo
Verde, em sintonia com o mundo à sua volta, também iniciou nos anos noventa o
processo de reestruturação da economia, a par com a instalação da democracia.
Foi liberalizada a economia, privatizadas as empresas públicas e promovida a
iniciativa privada e o investimento externo. A saída do Estado dos sectores
chaves da economia pôs, Cabo Verde, como noutras paragens que percorreram o
mesmo caminho da liberalização, a braços com o problema de como evitar que o
funcionamento do mercado fosse distorcido, prejudicando os consumidores e a
competitividade do país. A solução era a regulação do mercado por entidades
que, embora sendo públicas, não seriam limitadas na sua actuação por ditames
políticos. Foi a solução que o Reino Unido de Margaret Thatcher tinha
encontrado na sequência das privatizações profundas e extensivas que encetou
nos anos oitenta. Os americanos, desde do tempo de Theodore Rooselvelt e das
chamadas leis anti-trust, vinham acumulando uma experiência única na regulação,
mas em finais da década de setenta já era percebida como estranguladora da
dinâmica económica. A era de regulação que seguiu nos anos 90 e na década
passada foi marcada pela tensão entre a necessidade de regular e a pressão para
não a fazer em excesso. A crise internacional acontece quando a tendência para
desregular vence em nome da inovação no sector financeiro e desequilibra tudo.
Em Cabo Verde, a experiência de regulação iniciou-se nos últimos anos do
governo do MpD e depois de um período de reestruturação foi continuada nos
governos do PAICV. A regulação existente está longe de abranger toda a economia
nacional. Uma grande faixa ainda vive na informalidade, enquanto quasi monó-
polios e mesmo monopólios subsistem em sectores estratégicos como os
combustíveis e os transportes aéreos. A inexistência de uma autoridade de
concorrência dificulta uma abordagem abrangente do mercado, impede a gestão dos
constrangimentos e prejudica a identificação de acções deliberadas de distorção
do mercado. Paralelamente, verificam-se falhas graves nas prestações de vários
serviços públicos com prejuízo evidente para os consumidores e o público em
geral. Dizem os entendidos que a regulação para ser efectiva os reguladores
devem estar a um nível superior de conhecimentos do que o detido pelas empresas
reguladas. Só assim podem cumprir com a sua missão de assegurar concorrência no
sector, propiciar produtos de qualidade e a preços justos e ainda favorecer a
inovação. Naturalmente que atingir esse objectivo não é fácil e leva tempo.
Para se ter sucesso nesse percurso há que garantir que as agências reguladoras
sejam realmente independentes e tecnicamente competentes e que não sejam vistas
a gerir politicamente tarifários de produtos sensíveis e a favorecer umas
empresa em relação a outras. Na sexta-feira o parlamento discute uma novo
regime jurídico das entidades reguladoras . Espera-se que da nova lei saia o
enquadramento necessário para o desenvolvimento sólido das agências de
regulação caboverdianas. O sucesso da economia e a satisfação dos consumidores
depende disso.
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