Nº 543 • 25 de Abril de 2012
Editorial: Pela excelência do ensino
No passado dia 23 comemorou-se mais um dia
do professor cabo-verdiano. A instituição do dia do professor ilustra bem a
importância central que a sociedade cabo-verdiana tem dado ao ensino. O dia
escolhido foi o do nascimento do dr. Baltasar Lopes da Silva, o mestre de
várias gerações de caboverdianos. Este ano seria o seu 105º aniversário. Na
consciência colectiva dos caboverdianos existe a crença perene que pela via dos
estudos se ganha mobilidade social ascendente, diminuem-se as desigualdades
sociais e abrem-se oportunidades para um futuro com mais prosperidade. Sacrifí-
cios extraordinários são feitos pelas famílias para garantir que os filhos e
filhas tenham o máximo de escolaridade possível. Todos esperam que o esforço e
investimento realizados se traduzam em resultados concretos seja em termos de
rendimentos, de estatuto social e de perspectiva de uma vida ou de um trabalho
mais gratificante. A massificação do ensino primário, secundário e agora
universitário trouxe extraordinários benefícios a muitos. Recentemente
começou-se a notar que os resultados do grande investimento público, dos
privados e das famílias na educação não são os mesmos de outrora e já entraram
numa curva decrescente. Cada vez mais licenciados e graduados dos liceus ficam
desempregados.Ter um diploma já não significa emprego certo no Estado ou nas
empresas e institutos públicos. A constatação deste facto fez irromper na ordem
do dia a questão central da qualidade do ensino. Com o Estado no seu limite de
empregabilidade, a absorção da mão-de-obra só pode ser feita de forma
sustentada e crescente por uma economia em expansão. No mundo global de hoje
avalia-se a competitividade das nações também pelo ranking dos conhecimentos
dos seus estudantes do básico e do secundário. Nas decisões dos investidores e
dos operadores económicos pesa bastante a competência linguística e o nível de
conhecimentos científicos e do domínio da matemática dos trabalhadores que
esperam encontrar. Nessa perspectiva, a luta pela qualidade do ensino em Cabo
Verde é também uma luta para que os extraordinários recursos na educação não
sejam dispersados e para que os sonhos de todas as crianças e jovens não sejam
frustrados. Todas as teorias pedagógicas convergem na centralidade do papel do
professor no esforço colectivo das escolas, das famílias e da sociedade pela
qualidade do ensino. Deve-se exigir e deve-se dar mais ao professor. Mas o
ambiente social e cultural envolvente deve promover os valores que favoreçam o
esforço, a imaginação, a busca de verdade e o amor pelo conhecimento. O
trabalho do professor na sala de aulas será mais efectivo se os alunos puderem
observar que no mundo fora da escola respeita-se e compensa-se o mérito, a
criatividade e a dedicação. O dr. Baltasar Lopes é digno patrono dos
professores, porque toda a sociedade cabo-verdiana reconhece nele o intelectual
brilhante mas generoso que dedicou décadas da sua existência nestas ilhas a
transmitir conhecimentos e a fazer às novas gerações acreditar que tinham um
futuro melhor. A herança intelectual e cultural e de intervenção cívica que
legou ao país deve continuar a servir de inspiração para o grande e urgente
esforço nacional para a qualidade de ensino.O futuro do país e a realização dos
sonhos dos caboverdianos dependem do sucesso que se vier a atingir nesse
empreendimento.
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