Nº 544 • 2 de Maio de 2012
Editorial:
Mudar para ganhar
A comemoração do 1º de Maio, Dia dos
Trabalhadores, ficou ensombrada em todo o mundo pela dura realidade do
desemprego e do emprego precário que afecta a generalidade da população
particularmente os jovens e as mulheres. Marchas e manifestações em muitas cidades
do mundo marcaram o dia e chamaram a atenção para o desespero de muitos: dos
que se vêm sem emprego há largos meses, daqueles que se sentem empurrados para
fora do mercado de trabalho e outros cujos sonhos de uma vida adulta
independente e gratificante desmoronam-se perante a perspectiva de anos
sucessivos de fraco crescimento económico e fraca criação de emprego. A crise
iniciada em 2008 como crise financeira e depois, sucessivamente, como crise
económica e como crise da dívida soberana é hoje uma crise social de proporções
preocupantes cujo fim não se vislumbra a curto prazo. As soluções até agora
encontradas pelas lideranças de muitos países particularmente na Europa
privilegiam medidas de austeridade como forma de diminuir o duplo deficit
orçamental e de contas correntes e de restaurar a competitividade externa dos
países em dificuldades. Vozes cada vez mais fortes levantam-se contra essas
medidas e reclamam políticas a favor do crescimento e da criação de empregos
como solução para a crise. Em Cabo Verde, às vezes, até parece que a questão do
emprego é assunto tabu. Raramente se divulgam estatísticas sobre o desemprego.
No discurso dos governantes não se nota preocupação em mostrar resultados na
criação de postos de trabalho. Preferem falar de infraestruturas, luta contra
pobreza e formação profissional. Quando num momento de euforia ousaram prometer
baixar o desemprego para um dígito e falharam, tranquilamente retomaram o
discurso desresponsabilizador do tipo proferido, dias atrás em Portugal, pelo
Primeiro-ministro, José Maria Neves: “O desemprego é algo estrutural mas também
psicológico”. A história económica de muitos países mostra que a batalha do
emprego é ganha quando se orienta a economia para a exportação de bens e
serviços. O que é verdade para um país continental com a China com mais razão o
é para um pequeno país insular com população diminuta como Cabo Verde. Nas
Maurícias souberam-no sempre e por isso, a opção foi exportar, enquanto Cabo
Verde, durante os primeiros quinzes anos, se deixou seduzir pela ideologia e
pelo desenvolvimento autárquico. Os resultados vêem-se na diferença de
rendimento per capita (PPP). É quatro vezes superior nas Maurícias. A
preocupação do governo em manter o controlo político do país e da sociedade
entrava a economia nacional. Prefere mobilizar fundos externos na forma de
ajuda externa e ultimamente na modalidade de empréstimos bilaterais em
detrimento de uma estratégia de atracção de investimento externo e do
aproveitamento de oportunidades de acesso privilegiado aos mercados. Fica
satisfeito com o crescimento aquém do potencial e com a fraca criação de
emprego que tal opção proporciona. Não vê os custos dai resultantes,
designadamente nos investimentos públicos com baixo retorno, no enfraquecimento
do empresariado nacional e no agravamento dos problemas sociais. As centrais
sindicais ponderam convocar uma greve geral para Junho. Em causa está a perda
de confiança derivada de promessas feitas e não cumpridas pelo governo quanto
ao 13º mês, ao aumento de vencimento e ao salário mínimo. O momento devia ser
de uma unidade de esforços para se obter mais eficiência na utilização dos
recursos, ganhar competitividade externa e finalmente reorientar o país para o
mercado global. Mas para recuperar a confiança e garantir a colaboração de
todos, primeiro há que acabar com o imediatismo político, fugir à tentação de
usar o assistencialismo para controlar as populações e falar verdade ao país.
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