quarta-feira, março 07, 2012
Poder Local: escolhas por fazer
quarta-feira, fevereiro 29, 2012
Mercados e regulação
terça-feira, fevereiro 21, 2012
Valorizar o Parlamento
quarta-feira, fevereiro 15, 2012
SIR: sucesso depende de fiscalização
sexta-feira, fevereiro 10, 2012
Urge mudar e agir
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
A realidade impõe-se
O FMI finalmente fez ouvir a sua voz. Tarde, segundo alguns observadores. No comunicado de imprensa o Fundo aconselhou contenção orçamental para salvaguardar o acordo cambial com o euro e para precaver contra choques externos. Curiosamente, o FMI refere-se ao elevado desemprego, algo raro nos seus comunicados. Reformas para aumentar a competitividade, diversificar a economia e melhorar o funcionamento do mercado de trabalho juntamente como um esforço maior em reestruturar empresas estatais como os TACV foram algumas das medidas achadas essenciais para criar emprego.
Claro que os conselhos dados pelo FMI não constituem novidade para o Governo. Há vários anos que os vem ouvindo das forças da oposição e de muitas outras vozes da sociedade caboverdiana. Mas sempre se fechou na sua "bolha", blindada contra a crise.
O governo sempre quis dar a impressão de que poderia sobreviver a quaisquer intempéries desde que se apegasse aos seus pergaminhos da "boa governação". Quando se lhe apon-tava que tinha falhado nas promessas eleitorais de desemprego a um dígito e de crescimento a dois dígitos contrapunha que exportava "credibilidade" . E exibia os comunicados do FMI como prova de que trilhava o caminho certo.
Com a crise internacional a bater à porta, afirmou e reafirmou que tinha criado espaço fiscal e almofadas para choques externos. Acabou por cometer o erro de muitos que vivem pela propaganda. Acreditou no seu próprio discurso e não agiu à altura dos desafios reais.
Manteve a ilusão de crescimento à custa do endividamento externo supostamente concessional, mas com muitos custos escondidos. A s opções na aplicação dos créditos eram limitadas, materiais só podiam ser importados de Portugal e a classe empresarial nacional ficaria nas margens das grandes obras só acedendo a contratos menores.
Investimento privado não se seguiu ao investimento público e, em consequência, Cabo Verde em mais um ano consecutivo irá crescer no intervalo 4-5 %, abaixo da média africana de 6%.
O alerta do Banco Central veio em Novembro, mas foi recebido com hostilidade e arrogância pelo Governo. Mesmo com a realidade a bater à porta teimava-se em seguir o mesmo caminho. Uma semana antes da discussão parlamentar do orçamento do Estado, o Sr. Primeiro Ministro anunciou 100 medidas que mais pareciam cosmética e relações públicas. Não tinham tradução orçamental compreensiva como se viu quando nenhuma alteração substantiva se fez à proposta de orçamento.
Parece que não havia ainda consciência de que a blindagem imaginária fora furada . Talvez se esperava alguma mão salvadora vinda dos lados do Millenium Challenge Corporation. O problema é que só se conseguiu praticamente a metade do primeiro compacto muito abaixo dos 200 milhões que um ano antes se almejava obter dos americanos.
Com a crise europeia a aprofundar-se, secando as fontes tradicionais de donativos e de fundos concessionais, poucas alternativas ficam. Agora com a posição sem ambiguidades do FMI parece que não há como fugir à realidade dos factos.
Vamos ver se haverá acção consequente para se criar condições para o crescimento e emprego ou se volta a acenar a sociedade com miragens.
Editorial do Jornal “Expresso das Ilhas” de 1 de Fevereiro de 2012
terça-feira, janeiro 31, 2012
País real, país virtual
Na terça-feira, no pequeno-almoço com jornalistas, o Primeiro-ministro apelou para que se acredite que há plena liberdade de imprensa no país. O “desconfiómetro” parece não funcionar, mesmo quando o Estado é o maior empregador de jornalistas na rádio e na televisão, precisamente os meios de comunicação de maior influência; quando denúncias de vários quadrantes apontam para um ambiente político pontuado por compra de consciências e intimidações partidárias movidas pelo partido no governo contra adversários internos e externos ao partido; quando o Estado em orçamentos passados disponibilizou mais trinta e três mil contos (quase o montante de promoção na Cabo Verde Investimento) para fazer propaganda. O ambiente que precedeu as eleições presidenciais de Agosto do ano passado tira qualquer ilusão a quem ainda acredita que a democracia em Cabo Verde não tem sérios problemas. Todos se lembram como o Governo entrou numa campanha presidencial suprapartidária colocando todos seus recursos ao serviço da candidatura preferida pelo presidente do Paicv e primeiro-ministro. Ficou gravada na memória a ferocidade como foram atacados os militantes do PAICV apoiantes da candidatura de Aristides Lima. As denúncias de compra de consciência e de ameaça de perda de emprego relembraram tácticas utilizadas normalmente contra a oposição em outras eleições. Fundos foram encaminhados para as câmaras municipais, associações comunitárias e ONGs nas vésperas das eleições e em violação da lei eleitoral com o fito de arrebanhar votantes. Viveu-se, de facto, uma situação grave onde se utilizaram tácticas terríveis para cercear e desmoralizar adversários políticos. O exagero no envolvimento de membros do governo nas campanhas levou a incidentes desprestigiantes com efeitos nalgumas instituições. O pedido de demissão do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas em pleno período eleitoral não é alheio a isso. Fingir que nada aconteceu, ou o que se viveu então foi algo excepcional e não repetível, é esquecer como actos provocatórios e várias formas de fraude se tornaram corriqueiros nas eleições em Cabo Verde. E não é a vitória de Jorge Carlos Fonseca sobre o candidato do PM que deixa tudo limpo e a brilhar. A malícia no ataque ao Presidente da República acusando-o de chefe da oposição, revela que os métodos de ontem podem a qualquer momento ressurgir com toda a violência. Está-se, portanto, longe da democracia propalada nos relatórios. Claramente o governo e o partido que o suporta insistem em manter a sociedade num bipartidarismo crispado que desincentiva a participação política, cala vozes diferentes e neutraliza qualquer busca de autonomia, seja ela pessoal, social, intelectual ou académica. Aliás, a actual operação de forçar os caboverdianos a tomar o país virtual dos relatórios pelo país real, reflecte perfeitamente a atitude esperada de quem fundamentalmente escolheu governar servindo-se da propaganda. Procura subjugar, alienar e humilhar obrigando as pessoas a repetir o que sabem não ser a verdade.