A Universidade de Cabo Verde tem uma presença forte nos noticiários nacionais. Até parece excessiva. É como se alguém procurasse impregnar antecipadamente na consciência das pessoas a existência de algo ainda em processo de ser. O programa da UNI-CV aponta para 2011 o início normal de actividades de ensino. Entretanto, desdobra-se em múltiplas actividades, noticiados ao pormenor, com destaque para acções de cooperação com universidades estrangeiras. Publicita que já está a preparar mestrados no País e, seguindo o modelo adoptado de universidade em rede, poderá, entre outras acções, vir a fazer ensino à distância. Para a generalidade dos jovens e, especialmente dos seus pais, a grande questão é para quando a possibilidade de fazer uma licenciatura em Cabo Verde. E de obter esse grau académico em cursos estruturados de acordo com o processo de Bolonha, passíveis, portanto, de certificação por universidades estrangeiras, designadamente europeias. Também se deseja que esses cursos sejam ministrados por docentes com credenciais académicos impecáveis e num ambiente de completa liberdade intelectual. A preocupação das pessoas, pais e filhos, ganhou uma outra dimensão com o fim do sistema de financiamento de bolsas de estudo para o estrangeiro, que vigorou até o ano 2000, e com o número crescente de estudantes a terminar o 12º ano, resultante da expansão rápida do ensino secundário por todas ilhas. Responder a essa preocupação deveria ser o objectivo central da Universidade Pública de Cabo Verde. Desde de 1991 que os programas dos sucessivos governos definiram como objectivo do Estado assegurar aos jovens a possibilidade de fazer os seus estudos superiores no País, ao nível de licenciatura. Mas uma inércia espantosa tem tolhido a acção governamental e, particularmente, a acção do Ministério da Educação. Nem a urgência criada pelo término do sistema de financiamento de bolsas, em 2001, serviu para apressar as coisas. A Comissão Instaladora foi criada em 2004 e só em 2011, dez anos depois, é que se prevê o início da actividade normal da Uni-CV. O corpo docente ainda está por ser criado e preparado. Entretanto centenas de jovens continuam a sair do país para cursos superiores. Os outros, com o seu 12º ano, ou ficam de stand by ou ingressam nas várias escolas pós-secundárias, públicas e privadas, que vão se estabelecendo no País. Limitações de vária ordem condicionam a actividade dessas escolas e a relação dos alunos com o mundo académico envolvente que deviam propiciar. Por isso, ainda não é imediatamente perceptível no País e nas comunidades o efeito, vivo e forte, que resulta da presença de jovens mergulhados no turbilhão de actividades intelectuais, culturais, artísticas e desportivas, normalmente associadas às universidades. Cabo Verde precisa dos seus jovens nessa idade crítica de fim da adolescência e de início da idade adulta. Precisa da energia, da capacidade de contestação, da vontade de experimentação e da ambição. Não há muitos ganhos em tê-los quase guetizados em países estrangeiros, muito novos ainda para se aproveitarem das possibilidades que lhes são oferecidas. O esforço do País quanto à formação superior no estrangeiro deve ser dirigido fundamentalmente para os níveis de pós graduação. É aí que mais valias estratégicas poderão ser conseguidas, designadamente na absorção de conhecimento e tecnologia avançados para posterior desenvolvimento da capacidade de inovação no País. Também é com quadros pós-graduados em universidades de renome que o País poderá credibilizar a sua universidade, desenvolver uma estratégia de colocação de pessoas em organizações internacionais e prestar serviços internacionais, aproveitando o actual quadro da globalização em que o offshoring e o outsourcing se inscrevem. Não é por acaso que Singapura, para se desenvolver, optou por manter o maior rácio do mundo de estudantes per capita a pós graduar nos Estados Unidos da América.
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