quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Desafios

As eleições legislativas de 6 de Fevereiro deram uma terceira maioria absoluta ao PAICV. Como acontece nas democracias já consolidadas, o líder do maior partido da oposição reconheceu a derrota eleitoral quando se tornaram evidentes os resultados que para aí apontavam. Seguiu-se o discurso da vitória do líder do PAICV. A imprensa nacional e estrangeira e outros observadores saudaram o que aparentemente foi um processo eleitoral exemplar.

A realidade porém não é assim tão rósea. Vários incidentes antes e durante o período eleitoral indiciam problemas graves na democracia caboverdina.

Primeiro, foi a propaganda governamental que dominou o serviço público da rádio e televisão durante os meses que antecederam às eleições Depois, assistiu-se a vários momentos de confronto de autoridades públicas e do partido no governo com a lei eleitoral obrigando a intervenções repetidas da Comissão Nacional de Eleições. O Governo envolveu-se numa história rocambolesca de sabotadores na Electra que um inquérito a entregar até 31 de Janeiro ficou por esclarecer. Elementos das Forças Armadas foram posicionadas nas principais centrais eléctricas do Pais. Partidos em comícios, por todas as ilhas, dedicaram tempo precioso das suas mensagens a denúncias de compra de votos e de sequestro de bilhetes de identidade de votantes.

A democracia em Cabo Verde ainda não passou pelo teste da “segunda alternância de Poder”. Samuel Huntington, renomado cientista político americano, no seu livro Terceira Vaga: democratização no final do século XX , considerou como democracia consolidada só aquela em que “o partido que ganhou as eleições no período de transição, ao perder em eleição subsequente, transfere Poder para um outro partido e este, por sua vez, quando derrotado posteriormente também cede a governação pacificamente”. Segundo Huntington é essa segunda troca de partidos no governo que demonstra que as elites políticas no país estão suficientemente comprometidas com a democracia e com o processo de passagem de poder após as eleições. E que tanto elas como o público estão cientes de que se alguma coisa correr mal “mudam-se os governantes, não se muda de regime”.

É bom que se saiba o que vai mal para que no novo ciclo de governação a democracia seja aprofundada e consolidada. Para isso é essencial a contribuição de todos os actores políticos e fundamentalmente de uma sociedade civil autónoma e participativa e o suporte de uma comunicação social atenta, interveniente e defensora das regras do jogo democrático.

O espectáculo de milhares de jovens ontem nas ruas de Tunis, hoje nas de Cairo mas amanhã, provavelmente, nas de Amã e de outras cidades por esse mundo fora lembra os grandes desafios com que Estados e sociedades estão a ser confrontados. A baixa qualidade de ensino e a desadequação da formação profissional não contribuem para a competitividade e não são factores de empregabilidade. O resultado é o número crescente de jovens com estudos liceais e universitários completos sem possibilidade de um emprego decente e compensador. E isso num ambiente em que as famílias já sofrem com o aumento dos preços dos alimentos e de combustíveis que a saída ainda tímida da crise já provoca.

O ano 2011 vai de ser de apertar do cinto com já se anunciara. Os aumentos de combustíveis ontem divulgados são o prelúdio de dificuldades que virão. Espera-se que o governo que sairá das eleições de 6 de Fevereiro venha com uma outra energia e atitude em relação à construção de uma estrutura económica nacional com maior sustentabilidade e capacidade de expansão. Uma tarefa só realizável se for abandonada a cultura prevalecente de dependência que rouba as pessoas da sua liberdade e autonomia, aumenta a centralização e atrofia a criatividade e a iniciativa.

Editorial do jornal "Expresso das Ilhas" de 9 de Fevereiro de 2011

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Humberto
Efectivamente as eleições legislativas de 6 de Fevereiro deram uma terceira maioria absoluta ao PAICV. Concordo plenamente contigo que este era o momento da alternância, mas continuo a achar que eu tinha razão, que convinha melhor uma maioria relativa, num cenário em que cabia a UCID e ao MPD entrar num acordo de governo.
Esta campanha eleitoral ruidosa, foi de uma pobreza aflitiva, típica de um país atrasado com Cabo Verde com um povo ignorante.
O povo de cabo Verde comportou-se nas eleições como carneiro, deixou a cabeça no talho e o corpo vai pagar pois não se elege um governo sem ideias novas, agastado em 10 anos de governo, desgastado e em decomposição. Mas esta era a votação esperada tendo em conta o estado de retrocesso cultural a que o país foi votado e submetido. O que me estranha é Mindelo a outrora rebelde, ter passado ao conformismo maioritário, ela que tinha todas as razões para penalizar o PAICV, após tantos erros e lacunas do partido do Poder nesta ilha. O que é que passou? Qual é a razão deste score tão bom?
Muitos questionam se o regresso do Carlos Veiga foi a melhor estratégia, se não seria mais adequado que ficasse na reserva?
Muitos questionam o facto de o teu partido não ter caras genuinamente mindelenses não terá jogado em desfavor do MPD no Mindelo?
E há muito mais questões que têm sido colocadas.
Tens que analisar isto tudo, para bem do teu partido e da sociedade mindelense e caboverdeana.
Nenhum dos partidos quis debater o que seja sobre o futuro do país nem apresentar estratégias, contentando-se com alguns bloggers conceituados como tu, para as reflexões. O teu partido, reflecte o país real, tem sido um desânimo em termos de ideias novas.
Tens que escrever algo sobre as razões da não vitória das oposições quando tinham tudo para ganhar. Mas o futuro está a nossa (sociedade civil) frente e espero que estejas aberto às ideias novas que vem surgindo dela e da diáspora: a descentralização, a regionalização, os pólos de desenvolvimento de Cabo Verde, autonomia para o Mindelo, abertura e democratização da sociedade caboverdeana (sobretudo humanização das suas instituições de modo a dialogarem com a sociedade civil) e sobretudo um entendimento entre todos os partidos sobre o futuro de S. Vicente esta ilha que tem todas a s condições para voltar a ser o Centro de Cabo Verde (lugar que lhe foi roubado ‘à barba cara’ por interesses conspirativos obscuros e cálculos políticos) e o engenho para alavancar de novo o desenvolvimento do país.

Anónimo disse...

Este foi o pior artigo que escreveu!Nao é porque se cita Huntington que diz coisas que qualquer estudante de primeiro ano de ciências politicas sabe que se fica génio! O MPD teve duas maiorias qualificadas para nos livrar para sempre do PAIGCV mas andou a assobiar para o lado! Na oposiçao andou a brincar entre Dicos, Jorges Catxupas e foi incapaz de criar instrumentos de recuperaçao do poder, como rádios, televisões etc para instruir este povo vaidoso, analfabeto, ignorante e pedinte. O MPD tem mais uma chance, talvez a ultima: relançar já a campanha para as presidenciais tendo como candidato Carlos Veiga; so ele pode ganhar! O poder ganha-se, conquista-se; o MPD só tem Veiga. O povo gozou com o MPD nestas eleiçoes, compte agora ao Veiga, esquecer as promessas de nao candidatura e brincar também com este povo; este povo gosta de chicote e de mentiras; de homens machistas e nao de maricas; entao que leve de chicote e que Veiga lhe seja imposto. Veiga nao tem nada a perder e este povo sem tutano estará sempre a pedir esmola pelo que nunca terá coragem para protagonizar revoltas como os tunisinos, egipcios e outros!

Anónimo disse...

O MPD tem de impor Veiga como candidato! Disparate é Veiga dizer que é um cidadao na politica; isto é palermice. Como é que um homem que ganha duas eleiçoes com maiorias qualificadas e é Primeiro ministro duas vezes, candidato presidencial duas vezes pode dizer um tal disparate. Percebo que Veiga esteja defraudado (quem nao estaria com um povo traiçoeiro desses?!) mas é so ele que pode ganhar as proximas eleiçoes presidenciais. O PAI nao pode ter o comando do Parlamento, governo e da Presidência. Temos de sair dessa tragédia. Temos de deixar dessa mania de dizer que o povo é soberano escolheu e pronto. O povo pode escolher bem e mal; neste caso fez a pior escolha porque é manipulado. O MPD tem de decidir depressa uma nova estratégia de combate e ataque permanente, nas ruas, nas instituiçoes, nos bairros, nas escolas, em todo o lado; nao ha tréguas a dar ao PAI e nem pensar nos 100 dias de bónus ao governo. Veiga perdeu, porque cometeu três erros fundamentais: o de nao atacar desde o inicio José Maria, nomeadamente no primeiro debate a 4; so atacou no debate a 2, mas ja era tarde, tanto mais que a maioria das pessoas nao viu o debate, que ele ganhou; mas a maioria viu o primeiro debate que ele perdeu; segundo erro estratégico de Veiga, nao ter escolhido cabeça de lista para SVicente alguém da ilha, a mesma coisa em relaçao ao Fogo; e terceiro erro ter recebido de volta os golpistas da primeira e da segunda cisao do MPD, que nao trouxeram nenhum valor acrescentado ao partido. Desde que regressaram, os ganhos nas autarquicas foram quase nulos, pois Ulisses ganhou à tangente, e agora nas legislativas, a derrota está aí para calar a boca aos mais atrevidos. Conclusao: Veiga, tem de assumir o seu papel de um dos melhores politicos que CVja teve e nao acreditar nas mentiras do PAI, e abraçar a candidatura presidencial. A palavra dada ao povo, ainda por cima traçoeiro, nao vale nada em Politica. O que interessa em politica é ganhar e perder. Se o Veiga nao se candidatar, ele ja perdeu e nao é um lugar de deputado que vai aumentar a sua autoestima. Veiga tem de se candidatar; é imperativo. Caso contrario o MPD vai voltar a perder as presidências e esta tragédia do povo continuar...

Anónimo disse...

Preocupa-me o facto de a Sociedade não repudir os actos anti-democráticos e que violam a Lei, protagonizados por diversos actores da politica, começando pelo Governo que empenhou-se fortemente a fazer campanha para um dos partidos politicos, utilizando recursos do Estado; Os partidos politicos disputavam um campeonato de "Se fazes, também faço" nos atropelos do Código Eleitoral; A boca de urna foi realizada nas barbas das autoridades (tornaram-se cumplices de um crime); A compra de votos, há muito que vem sendo prática corriqueira e vêm influenciando os resultados finais das eleições; Os observadores internacionais só olham para o acto de introduzir os votos na urna e ás contagens. Ignoram ou fazem-se de cegos para os factores que condicionam as eleições;
NÃO EXISTEM ELEIÇÕES LIVRES E JUSTAS EM CABO VERDE!

Anónimo disse...

Como é possível o Veiga, por birra, não se candidatar a Presidência da República depois de um resultado negativo, uma derrota, mas ‘quand même’ 46%, um bom score. Se o eleitorado estiver estabilizado, e isto é uma questão para politólogos estatísticos etc, do mpd analisar seriam precisos mais 5% do eleitorado total. Daqui a alguns meses acredito que seria possível, pois há muitos descontentes abstencionistas etc. Neste momento me parece que o único candidato capaz de congregar o eleitorado da oposição é o Carlos Veiga. Se este deixar cair é um acto incompreensível a autêntico balde de água fria.

Anónimo disse...

O quinto erro de Veiga serà ele nao candidatar-se. O MPD que nao o deixe cometer esse erro fatal para Cverde; mas antes que matute sobre este quarto erro:ter trazido Marcelo Rebelo para dizer o que eu e varios outros caboverdianos ja tinham dito. Rebelo foi uma afronta para o povo, e o PAI soube explorar esse flanco aberto! Este povo continua mentalmente manipulado e entao qualquer politico português afecto ao MPD que ele vir começa a ver o diabo. A propsito de diabo, como é possivel que o MPD nao tenha podido desmontar o discurso de odio de José Maria Neves e do PAI contra Carlos Veiga? Como é possivel ler-se tanto odio contra Veiga, visto como um ditador, quando os ditadores estiveram no PAI e estao ainda nesse partido? Como é possivel ler-se que Veiga é um diabo, um arruaceiro e outros adjectivos quando ele é uma pessoa civilizada? Porque é que o MPD esteve a dormir 10 anos depois de ter negligenciado duas maiorias qualificadas para compor esta terra? O Eugénio tinha razao quando ele escreveu esse célebre artigo sobre a ternura que o MPD teve para com o PAI. Quando se deita pela janela as oportunidades, é assim; A vignança é um prato servido frio! Como é possivel ouvir dizer que Veiga nao tem representaçao na sociedade, quando mesmo derrotado ele pesa entre 40 50 por cento do eleitorado caboverdiano? Mas onde estao os pensadores, os politologos, os sociologos do MPD? Veiga tem de ser candidato, mesmo que nao ganhe! Mas com 41 por cento dos votos ele pode fazer o candidato do PAI perder. So Veiga na esfera do MPD pode ter um tal score. Zona, teve um score de 3 por cento nas ultimas presidenciais. Nao se aposta num tal candidato. O Miquinhas nao conseguiu ganhar SNicolau nas ultimas autarquicas. Veiga sempre perdendo pesou no entanto sempre mais de 40 por cento dos votos quer em legisltivas quer em presidenciais, que ele alias ganhou. Veiga tem de ver uma coisa; ou ele se levanta nas presidenciais mesmo perdendo mas farà o PAI perder, candidatando-se, ou pode entao infelizmente esquercer a politica, porque como deputado ele nao vai servir para nada. A personalidade de Veiga é de chefe e nao de deputado. Veiga quis regressar entao ele tem de assumir. Se VEIGA for candidato o MPD ganharà em qualquer caso de figura, porque os seus votos serao negociados na segunda volta para derrotar o PAI. E pode-se mesmo ser maquiavélico e equacionar mesmo três ou quatro candidatos apoiados pelo MPD; So que um deles é imperativo. Veiga. So Veiga pode ainda ganhar, so Veiga pode pôr o MPD a ganhar. Alias Veiga pode até tomar umas férias e nao pronunciar-se ja. Ele tem 5 meses, para ver o povo a pedir o seu regresso. Em 5 meses, o MDP pode fazer a vida negra ao PAI e entao Zema estarà gastado, criticado; nao ha aqui estados de alma, nem ressentimentos, nem dor pelo povo. O povo erra quase sempre em politica; o povo quase nunca ganha. Logo pode-se esquecer o povo e impor ao povo o Veiga como o candidato que farà o MDP ganhar, mesmo que seja outra pessoa. Mas em todas as hipoteses Veiga tem de estar la para meter medo e fazer perdder o PAICV.

Anónimo disse...

Impressionante. Gostei do artigo que não diz muito, mas percebe-se aonde quer chegar, e gostei do desabafo dos comentaristas que não são nada tolos. É pena, MPD e Veiga ficarem mal perante o partido PAICV e o lider José Maria Neves. Uma vitoria e uma derrota que irão piorar a vida e a democracia cabo-verdianas. O povo, inculto e coitado, não entende isso... Que tempo de antena foi aquele??? Quem eram os estrategas???