Editorial Nº 556 • 25 de Julho de
2012
Não é bom o estado da Nação
Na próxima sexta-feira, dia 27 de Julho, tem lugar
o Debate sobre o Estado da Nação. As intervenções do Governo e dos partidos
políticos nesse momento alto da Assembleia Nacional serão certamente
influenciadas pelos resultados das recentes eleições autárquicas. Como não
existem muitas dúvidas de que a população caboverdiana se serviu dessas
eleições locais para mandar vários recados ao governo, nenhum dos
intervenientes poderá ignorar o sentimento popular expresso nas urnas de claro
desagrado com promessas eleitorais não cumpridas, com desemprego elevado, com a
insegurança e precariedade habitacional.
Ao
longo do debate espera-se que se avaliem os resultados da governação e que se
produza uma discussão frutífera sobre os desafios do próximo futuro. A situação
mundial é de muitas incertezas. Cabo Verde enquanto economia pequena e aberta
não deixará de ser afectado pelo que pode vir a acontecer aos seus parceiros
mais próximos. O tempo urge em definir um rumo que diminua a dependência do
país e volte a dinamizar a economia nacional.
Para a
generalidade dos países, grandes e pequenos, o momento actual é de repensar a
organização da actividade económica. Os Estados Unidos procuram dinâmica no
sector exportador, enquanto a China esforça-se por depender menos do
investimento como motor do crescimento e mais do consumo interno. A Europa,
particularmente dos países do Sul, lança-se num programa de austeridade
violenta para pagar dívidas do tempo do crédito fácil e ganhar competitividade
externa que eventualmente lhe permita regressar ao crescimento com criação de
emprego. A Índia procura ultrapassar os constrangimentos que não a deixam
crescer mais rápido sem que tenha de arcar com a hiperinflacção.
Aqui
em Cabo Verde ainda não há sinais que o Governo queira mudar de postura. Isso
não obstante a conjuntura mundial adversa e não obstante as tensões
macroeconómicas devidas aos défices orçamentais e de contas correntes,
diminuição de donativos, nível de endividamento e fraco influxo de capital
directo estrangeiro. A visita do Sr. Primeiro-ministro à China parece confirmar
que a velha e gasta fórmula de recurso à ajuda externa continua a ser a
principal linha de acção do governo.
Ao
longo da semana, o país pôde assistir pela televisão nacional ao périplo do PM
pela China. Dos resultados da viagem ressaltou-se o donativo de 8,5 milhões de
dólares e o empréstimo de 12,5 milhões de dólares. Aparentemente, da interacção
ao mais alto nível com a segunda e mais pujante economia do mundo ficou-se pelo
tradicional: donativos e empréstimos concessionais. Em termos de negócios
ouviu-se o PM dizer que afinal as empresas chinesas não estão interessadas na
privatização da Cabnave. Quanto ao porto de águas profundas de S.Vicente falou
em estudos e em procura de financiamento. E uma visita à sede da empresa
Huawei serviu de suporte para mais uma vez se aflorar a ideia de Cabo Verde
como Cyber Island.
Claramente
que a visita do Chefe do Governo à China traduziu-se numa grande operação de
marketing em vésperas do Debate sobre o Estado da Nação. O país já está
habituado que boa parte da governação seja relações públicas e marketing. O
complicado no caso presente é que o Governo persista nos mesmos métodos mesmo perante
factos inegáveis como a crise, a falta de resultados significativos no
crescimento e no emprego e o descontentamento da população. Não consegue fugir
do modelo de desenvolvimento que só aumenta a dependência do país, que não cria
emprego suficiente e de qualidade, que aumenta a desigualdade social e que
centraliza recursos.
O
Governo tem quase quatro anos à frente para governar sem pressão das eleições.
Seria ideal que aproveitasse a oportunidade para lançar outros caminhos. O
momento actual no mundo e no país é crítico. É tempo de deixar os velhos
modelos e as velhas práticas. E claramente que a via de dependência do Estado
ou da ajuda externa não é um caminho salutar. Se havia dúvidas quanto a isso,
desapareceram com as acusações de compra de votos e de consciências nos
períodos eleitorais. Dependência corrói a alma e estrangula a democracia ao
mesmo tempo que incapacita para o desenvolvimento.
A Direcção