Ulisses
Correia e Silva em declarações ao jornal
asemana diz que tem mandato para renovar as listas dos deputados e que está
determinado e firme a fazê-lo. Muito bem. Não explica quais os objectivos
dessa renovação para além de preenchimento de quotas de mulheres e jovens e de
se ver livre de “veiguistas” que causam quezílias
internas. Diz-se ainda que a renovação vai trazer uma nova estirpe de
deputados chamados de tecno–políticos. Com essa inovação esdrúxula vê-se logo que os restantes deputados, os não tecnos, vão ter de fazer um esforço maior para não cair nos estereótipos maledicentes de deputados que só levantam o
braço ou bebem água engarrafada. Também com tecno-políticos na bancada provavelmente poder-se-à dispensar com o quadro de
conselheiros e assessores que a Assembleia Nacional põe à disposição dos grupos
parlamentares para fornecer aconselhamento e suporte técnico-político aos
deputados.
Mas navegar
em clichés complicados que alimentam uma cultura anti-parlamentar é o resultado
da absorção de partes da narrativa do PAICV pelo MpD . O PAICV sempre teve
problemas com a democracia representativa e não perde oportunidade para
descredibilizar o seu centro vital que é o parlamento. Faz isso provocando
crispação política, exacerbando a polarização partidária e pondo em questão o
modelo de representação. O MpD engoliu o isco e pôs-se a questionar o modelo de
representação existente e os seus próprios deputados. Curioso que a vontade de
renovar não chegou ao líder parlamentar Fernando Elísio que deve ser o único
líder parlamentar no mundo a trabalhar com três lideranças diferentes do partido (Jorge Santos,
Carlos Veiga e Ulisses Correia e Silva). Por aí pode-se ver que a deriva contra
os actuais deputados não é tão inocente. E que a contestação do actual grupo
parlamentar, um dos centros fundamentais da integridade do legado do partido e
da sua defesa, serve alguma dinâmica faccionista. Só assim é que se justifica
que o processo político de substituição dos actuais deputados fosse aberto há
pelo menos dois atrás, com efeitos devastadores na coesão e eficácia do grupo
parlamentar.
Inicialmente,
para o processo de renovação falou-se de eleições primárias mas acabou-se por
ficar com as sondagens para escolha de deputados. Primárias implicariam debate
e concorrência aberta dentro partido e isso claramente não interessa. De qual
maneira, a opção pelas sondagens faz do MpD o único partido que recorre a elas
para preencher lugares de deputados em listas plurinominais.
Sondagens que,
por um lado, não são úteis nem são sérias. Não são úteis porque além de
custosas não se aplicam a cabeças de lista onde talvez alguma notoriedade e
empatia do candidato poderiam trazer benefícios eleitorais. Não são sérias
porque sabe-se à partida que para o eleitor num sistema eleitoral de listas
fechadas e de disciplina partidária o que conta é o partido e o candidato a
primeiro-ministro.
Por outro
lado as sondagens propostas constituem uma farsa e escondem um cambalacho. É
uma farsa como forma de selecção de deputados quando logo a partida a escolha
directa do presidente recai sobre 40 candidatos a deputado (10 cabeças de lista nos
círculos nacionais, 6 nos círculos da emigração, 15 candidatos com
competências tecno-políticas, 6 nas listas de Santiago Norte e 3 nas listas do
Fogo), muitos deles presumivelmente em
posições legíveis. Se acrescentarmos ainda os dirigentes que também por escolha
da direcção não devem ser sondados, constata-se que, de facto, só uma minoria
dos deputados eleitos resultará das sondagens. É um cambalacho porque é
evidente que por detrás da suposta escolha pessoal directa do presidente irão
estar todos os interesses obscuros que vem deixando o MpD no desnorte e
ineficaz na luta contra a hegemonia do PAICV.
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