Na segunda-feira, dia  19 de Junho, o Governo e os parceiros sociais, os sindicatos e o  patronato chegaram a um compromisso para assinar em Julho um acordo  tripartido para mais crescimento, mais emprego, mais rendimento e para  um esforço maior na luta contra a pobreza. A convergência de posições  pode vir a revelar-se de maior importância se conseguir traduzir-se em  vontade para fazer as reformas profundas que o país carece, em confiança  na possibilidade de vida para além da ajuda externa e em paz social  indispensável para se trabalhar o presente de forma a que o futuro seja  de todos. Na encruzilhada em que Cabo Verde se encontra neste momento, a  braços com incertezas internacionais, com uma excessiva dívida pública e  um crescimento económico ainda insuficiente, é fundamental uma atitude  geral marcada pela perseverança, produtividade e solidariedade para se  atingir os objectivos de prosperidade desejada.
Tal acordo só peca por ser tardio. De há  muito que se devia ter concluído que, a exemplo de vários países,  alguns insulares como Cabo Verde, só com uma dinâmica económica  suportada por investimento privado nacional e estrangeiro e por uma  população profissionalmente qualificada e orientada para exportação de  bens e serviços incluindo o turismo se pode almejar uma melhoria  significativa e sustentável nos rendimentos e na qualidade de vida das  populações. O crescimento rápido verificado ao longo dos anos 90, na  sequência das reformas económicas, demonstrou claramente isso. Um  crescimento similar posterior nos anos entre 2005 e 2008 devido ao  impacto do investimento externo na economia veio confirmá-lo.  Infelizmente, as melhores ilações não foram retiradas dessas  experiências e rapidamente se perderam oportunidades, num caso, para  explorar o potencial oferecido pela industrialização voltada para  exportação e, no outro caso, para construir uma base mais alargada para o  turismo.
Como sempre, por um lado, pensava-se que  se tinha todo o tempo do mundo para tomar decisões e, por outro,  caia-se na tentação de querer ganhar à cabeça e deixar-se  apanhar por rendas fáceis. Tal atitude para além dos seus malefícios  evidentes ainda não contribui para o espírito de pertença a uma causa  comum que é o desenvolvimento do país e para a solidariedade que é  essencial para garantir que todos beneficiem dos avanços conseguidos. Em  ambiente de jogo de soma nula não há cooperação para se conseguir o bem  comum mas sim competição nociva em que uns procuram ganhar subtraindo  aos outros. Não estranha que seguindo por esse caminho se acabe  simplesmente por aumentar a dívida, por ver grande parte da economia  implodir ou regredir para a informalidade enquanto o tecido social  ameaça desfazer-se em crescentes incivilidades e violência. As pessoas  acotovelam-se cada vez mais à volta dos recursos públicos do Estado e  dos que giram em torno dos investimentos externos no turismo.
Como sugerimos no editorial de 5 de Maio  de 2017 o país precisa gerar alguns “consensos necessários” para poder  encontrar o seu caminho de volta para a cooperação e para a  produtividade, condições necessárias para  a restauração da confiança,  para maior civismo e para maior solidariedade. Mas o pacto para o  crescimento e emprego que foi proposto não devia ficar pelos interesses  representados no Conselho de Concertação Social que tendem a fixar-se  mais nas políticas de rendimentos e preço, de emprego, formação profissional e segurança social.  Pelas suas implicações em todos os aspectos da vida do país, a sua  discussão e aprovação devia ser mais abrangente e verificar-se numa sede  mais alargada.
O Conselho Económico Social e Ambiental  previsto na Constituição como órgão auxiliar da república parece ser a  sede própria para isso. É o órgão máximo de concertação social no país e  é nele que os interesses das ilhas expressos através do Conselho de  Assuntos Regionais são contemplados, a vontade de participação das  comunidades emigradas via Conselho das Comunidades pode ser acomodada e  outros grupos sociais e profissionais como organizações de consumidores,  ONGs, activistas ambientais, profissionais liberais também encontram  representação adequada. Impõe-se simplesmente que passe a funcionar. A  sua lei de organização e funcionamento já existe desde Setembro de 2014 e  convinha que a Assembleia Nacional começasse por eleger o seu  presidente.
No mesmo sentido com os mandatos  parlamentares e nas assembleias autárquicas renovados nas eleições do  ano passado seria da maior importância que a eleição dos dois  representantes para cada ilha para constituir o Conselho de Assuntos  Regionais se verificasse. Curioso que com tanta paixão aflorando aqui e  acolá à volta da situação vivida em algumas ilhas e os muitos debates  sobre a regionalização não há um esforço concertado para se instalar  esse conselho. Com as suas competências, designadamente de parecer  obrigatório sobre os orçamentos do Estado, sobre leis das autarquias e  finanças locais e sobre a divisão administrativa do país o seu  funcionamento regular poderia contribuir positivamente para uma maior  racionalidade dos recursos no país e ajudar a dissipar tensões entre as  populações das diferentes ilhas que não servem a ninguém e que pelo  contrário só alimentam o ressentimento e a desconfiança.
 Os ganhos conseguidos na última reunião  do Conselho de Concertação Social devem ser ampliados para poderem  afectar globalmente o país de forma positiva. O Conselho Económico  Social e Ambiental é a sede própria para isso. Há que pô-lo de pé e a  funcionar o mais breve possível.  
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 812 de 21 de Junho de 2017.
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