O novo governo tomou posse perante o Presidente da República no dia 21 de Março. É o início de um terceiro mandato que tudo leva a crer vai ser um mandato difícil. A situação económica e política internacional continua instável, de contornos pouco claros e imprevisível quanto à sua evolução futura. E Cabo Verde, a partir de 2013, vai ter de confrontar-se com maiores exigências no acesso a financiamentos concessionais e a mercados preferenciais derivadas da graduação a país de rendimento médio.
A crise internacional em Setembro de 2008 encontrou o País com uma economia pouco diversificada e cada vez mais dependente do turismo. Nos anos da euforia pré-crise verificara-se um surto de investimento directo estrangeiro dirigido fundamentalmente para o sector do turismo e da imobiliária turística. Em consequência, Cabo Verde cresceu mas não o suficiente para criar o número de empregos necessários. Com a crise, a situação social degradou-se. A perda de postos de trabalho na construção civil e nos serviços ligados à actividade turística não foram contrabalançados por emprego criado directa ou indirectamente pelas obras de infra-estruturação feitas com recurso a linhas de crédito estrangeiras.
Na avaliação da competitividade de Cabo Verde pelo Forúm Económico Mundial (117º lugar em 139 países) ficaram evidentes os constrangimentos que ainda se colocam à economia, retirando-lhe eficiência e mantendo baixa a produtividade. Esses constrangimentos mostram-se ainda nos resultados aquém dos desejados conseguidos das apostas do Governo em fazer de Cabo Verde uma praça financeira internacional, um hub aeroportuário e um centro para o transhipment e ainda uma cyber island. O facto das metas propostas pelo Governo para o crescimento do PIB e para o desemprego não terem sido atingidas, mesmo considerando a crise, apontam para sérias dificuldades em lidar com a economia real.
Diferentemente do que aconteceu na generalidade dos países, em Cabo Verde, a crise não foi motivo de grande reflexão e preocupação mesmo quando de crise financeira passou a crise económica e depois a crise social com desemprego generalizado. Hoje é crise da dívida soberana afectando os principais parceiros de desenvolvimento. Apesar disso o País, protegido segundo o Governo por blindagem segura, como que ficou acima, pairando sobre dificuldades que só pareciam atingir os outros. O período eleitoral serviu para camuflar a situação, em vez de ser razão para uma discussão aprofundada e séria de como o País se devia preparar para o pós-crise.
Muitos esforçaram por dizer que não havia necessidade de arrepiar caminho e de ter uma outra atitude em relação ao desenvolvimento. Insistiu-se em manter o rumo e a ideia passou. Hoje, já depois das eleições, é o próprio Primeiro-Ministro que vem informar o país que se vive “tempos de grandes incertezas e de grandes riscos”. E que “a crise vai perdurar” e “a subida dos preços dos combustíveis e dos produtos alimentares vem agravar esse quadro”. Mas os sinais enviados na apresentação da estrutura do Governo e nas nomeações feitas em sectores chaves como a economia e o desenvolvimento do capital humano não auguram mudanças significativas. E sem uma nova abordagem dificilmente poder-se-á enfrentar com sucesso os desafios actuais.
Passado o período da polarização eleitoral, os caboverdianos esperam que o governo assuma que tem um mandato de cinco anos para colocar o país numa base sólida de crescimento com mais emprego, mais rendimento e mais qualidade de vida. E que não deve condicionar a sua agenda às outras eleições e desperdiçar tempo precioso que o País precisa para se preparar para os tempos difíceis que aí vêm.
Editorial do Jornal Expresso das Ilhas de 23 de Março de 2011