quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Mercados



É interessante notar nos discursos políticos, nos debates e em simples conversas a preocupação central com os meios, as infraestruturas e mais recentemente com a produção. De fora da cogitação continuam ainda a ficar os mercados para venda dos bens e serviços. É como se todos reproduzissem o que em certas entidades públicas que contratam empresas, consultores e jornalistas para fazer uma revista institucional. Depois de editada e impressa a dita cuja fica nos caixotes e simplesmente não é distribuída para além dos poucos exemplares oferecidos na cerimónia de apresentação. A diferença é que, enquanto a revista já é paga à partida, no caso de o agricultor ou empresário não vender uma safra ou o primeiro contingente de produtos pode ser o início de um caminho doloroso para a ruína. Sem vendas não há retorno. Esta simples verdade parece não entrar com facilidade no discurso dos que se dizem preocupados com o desenvolvimento, o emprego e o rendimento das pessoas. Quando à questão dos mercados vem à baila os seus contornos são muitas vezes pouco claros. É o que se vê quando alguns falam de aceder ao mercado dos 300 milhões habitantes da CEDEAO. Não se vislumbra o que se vai comprar e o que se pode vender e como tudo irá se processar para na região se ir além dos actuais 3% do comércio global do país. Da mesma forma fala-se do potencial de dezenas de milhões de euros nos mercados turísticos da ilha do Sal e da Boa Vista. Não se mete imediatamente na equação, por um lado, o sistema de transportes praticamente inexistente, os fretes caríssimos e os vários custos na carga e descarga nos portos. Por outro lado, esquece-se da relação estrita que os donos destes e de muitos hotéis semelhantes por todo o mundo têm com os seus fornecedores. Também se esquece que os mesmos fornecedores com acesso directo aos portos das ilhas turísticas têm custos de transporte claramente inferiores ao produtor nacional de Santo Antão, Santiago ou Fogo. Dificilmente se pode ser competitivo nestas circunstâncias. Fazer da agricultura em Cabo Verde um negócio rentável teria que passar necessariamente por seleccionar produtos com grande valor acrescentado, introduzir padrões de qualidade comparáveis aos da União Europeia, desenvolver canais de distribuição adequados e garantir um sistema de transporte fiável e a baixo custo. Sem acesso aos mercados, o investimento, o esforço e a esperança das pessoas simplesmente se perdem.  

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