A abertura do ano político do PAICV tinha todos os sinais do déjà vu. O partido vê a sua relação com Cabo Verde no quadro de uma narrativa de sentido único. Tudo o que o país tem, deve-se-lhe a ele: a independência, a identidade nacional, o desenvolvimento, a democracia etc. Por isso acha-se credor de gratidão eterna dos cabo-verdianos. Em consequência só ele tem direito a governar e só ele conhece e defende os interesses de Cabo Verde. Numa palavra, só ele tem credibilidade, significando legitimidade, para conduzir o país. Quando membros do Governo proclamam vezes sem conta que credibilidade é um recurso do país, estão a referir-se a si próprios e ao seu partido . Não estão a dizer que as instituições do país, independentemente de quem as dirige no momento, são credíveis. Aliás, por conveniência, até podem não se importar muito com a credibilidade das instituições. Pelo BO de 12 Maio de 2010 vê-se como o Governo sujeitou o Banco Central, que deve ser e parecer independente, a ficar gerido por administradores com mandatos por renovar durante três anos.O próprio governador do BCV ficou quase um ano à espera de ver o mandato reconfirmado. No ataque aos adversários não deixam dúvidas quanto ao significado que dão à credibilidade. A postura oficial é, sob capa de credibilidade, negar legitimidade aos adversários e manobrar-se para mostrar aos outros, designadamente à comunidade internacional, que eles não merecem reconhecimento como possíveis partidos do governo. Daí os artigos e intervenções insidiosos quanto à ligação dos partidos ao narcotráfico que convenientemente aparecem em período pré-eleitoral. Na frente interna instila-se na mente da população que vital para o país é a cooperação internacional e que países e instituições estrangeiras só no PAICV confiam. Esforçam-se por fazer crer que a União Europeia e os Estados Unidos não vêem credibilidade no MpD. Ou seja, precisamente no partido que dotou o país, saído de um regime totalitário, de uma Constituição moderna, edificou as instituições da democracia, procedeu à reestruturação de economia, deixando para trás um sistema estatizado, e abriu caminho para o mercado e para iniciativa privada. Surreal, mas insistem e citam a derrapagem financeira dos ultimos meses do ano 2000 derivado do duplo choque externo da subida do dólar e do aumento rápido dos preços do petróleo. Derrapapgem a que, na época, não escaparam vários países, entre os quais, as Maurícias e Portugal. Isso não retira credibilidade a nenhum país. Muito menos ainda se se considerar que no momento Cabo Verde vivia o período de maior crescimento na sua história e tinha atingido o nível de desemprego mais baixo de sempre. Países como a Polónia, República Checa, Hungria e os Bálticos tiveram no processo de construção da democracia e da reestruturação da economia recessões, crescimentos negativos, desemprego. Ao longo de todo o processo, partidos ganharam e perderam eleições. Mas ninguém falou em perda de credibilidade do país. A poderosa Alemanha ainda hoje paga a factura da absorpção da sua parte oriental comunista. Só o PAICV é que pensa que se pode reestruturar sem custos políticas económicas estatizantes, sufocadoras da inciativa privada e bloqueadoras do investimento externo implementadas durante 15 anos. Mas isso já se sabe: é para não pedir desculpas e para não se responsabilizar por nada que acontece de mal ou de menos bom ao país. Por isso, também, continua a não ver custos na sua ideia que governar significa ir buscar recursos lá fora e distribui-los reproduzindo dependências várias, nomeadamente: 1- As pessoas e a sociedade em vez de se concentrarem no "como" criar riqueza esperam benesses de fora ou de dentro mas sempre via o Estado e seus tentáculos. 2- A comunicação social pública renega o serviço libertador que devia prestar à comunidade com a cobertura sistemática e exaustiva desses eventos ritualísticos de paternalismo e dependência. 3- Todo o aparelho do Estado orienta-se para suportar a tarefa do Governo de captar fundos e distribui-los. É ineficiente e pouco sensível no lidar com as empresas e iniciativas individuais na produção nacional . Também, pela mesma razão, desperdiça recursos e oportunidades e não arrepia caminho mesmo quando é evidente que o modelo de governar e dirigir a economia está na origem do crescimento anémico e desemprego persistente acima dos 20%.
1 comentário:
Gostaria que o PAICV fosse pelo menos um partido DEMOCRATA. Mas não é, e infelizmente para o país, os actuais dirigentes e suas politicas anti-desenvolvimento estão arrastando o país para o declinio.***A situação politica e social que vivemos é preocupante. Mas estou confiante, que mais uma vez, a sociedade vai reagir e dizer basta aos abusos da NOMEMCLATURA do PAIGC.***Aliás, os sinais de alarme provenientes dessa "classe"são muito fortes e cada vez mais frequentes.***Esse pequeno anda em CONTRA CICLO da História. Trocaram a "iluminação" pela "esperteza"; trocaram a imposição pelo engano; trocaram a prisão pela discriminação; trocaram a sensura pelo insulto; trocaram os expurgos pela intimidação!!! Mas nada MUDOU na essencia
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