A ADECO acusou o Governo de falta de transparência e de fugir à apresentação de dados depois de várias solicitações nesse sentido terem sido ignoradas. Em causa estava a necessidade da ADECO de ter as informações correctas para, de forma independente, verificar o custo do KW/h produzido pelas projectadas centrais eólicas e assim acautelar os interesses dos consumidores. Como já se vem tornando norma, o Ministério da Industria, Turimo e Energia respondeu, primeiro, com agressividade, acusando a Associação de Consumidores de fazer afirmações maliciosas e caluniosas e de tentar prejudicar o futuro do país. Para, no momento seguinte, mostrar-se ofendido porque o seu bom-nome foi posto em causa. Por aí se vê que o Governo não é só os adversários políticos que trata de negativos e antipatriotas. Todo aquele que colocar uma crítica fica sujeito aos mesmos mimos. No comunicado do MITE diz-se ainda que não se deu tempo ao ministério para reunir as informações solicitadas. Isso é revelador da forma ad hoc com têm conduzido o programa, sem ponderar as opções feitas e sem reunir os dados indispensáveis que as justifiquem, numa perspectiva de custos e benefícios. Começou no princípio do ano com duas Resoluções publicadas no BO de 28 de Dezembro. Na primeira Resolução o Governo contratava uma empresa portuguesa "para elaborar e concretizar um plano energético renovável". Na segunda resolução, optava por imediatamente construir duas centrais fotovoltaicas com crédito português, sem esperar pelo plano. Entretanto, com a INFRACO já se tinha lançado no projecto dos quatro parques eólicos. Também sem ter nas mãos o plano que, tudo indica, ainda não foi apresentado. O expedientismo demonstrado em todas essas decisões tem o seu outro lado na propaganda incessante que submete a opinião pública sobre esses projectos. Talvez para encobrir os problemas graves da Electra causados pela inépcia do governo e para gerir expectativas e fazer crer às pessoas que a crise de energia tem os tempos contados. Na pressa de se mostrar, fornecem-se dados à vontade: Cabo Verde vai passar dos actuais 2 % de energia renovável na rede para os 25%. Ou seja, do estado actual incipiente atinge-se logo o nível da Dinamarca que está no topo do mundo nesta matéria. Nem se faz uma paragem pelos níveis de 15% de Portugal que conta com a EDP, a quarta empresa do mundo em energia eólica. O PM já prevê um futuro com 50% de energia renovável. Órgãos de comunicação social falam em poupança de mais de 12 mil toneladas de combustível como se fosse acontecer amanhã e em vendas de créditos de carbono. Ninguém ainda se referiu, por exemplo, aos investimentos nas redes das ilhas para as preparar para receber produtores cujo fornecimento é, pela sua própria natureza, intermitente e variável. Ou dos investimentos em sistemas térmicos de back up que serão necessários para responder às contingências e também aos custos adicionais impostos pela insularidade na concepção desses sistemas. Interessa ao Governo é anunciar que a solução já está próxima. A reacção agressiva e ressentida do ministério perante solicitações de informações concretas como as feitas pela ADECO mostra a fragilidade do que vem apresentando. Não é admissível que governantes comuniquem com o público com meias verdades e falta de transparência. Também não é admissível que, chamadas à responsabilidade, respondam com insultos e tiques de "prima donna" ofendida.
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