quinta-feira, janeiro 27, 2011

Jogo da "bolha"

No jogo da bolha também conhecido por jogo de pirâmide ou esquema de Ponzi o dinheiro de novos “entrantes” alimentam as extraordinárias mais valias ganhas pelos já lá estavam antes. A bolha estoura quando ninguém mais põe dinheiro suficiente para garantir os juros elevados pagos aos outros. Uma coisa é sempre certa nesse tipo de jogo: há uns poucos ganhadores que são os que montaram o esquema e aliciaram outros a participar. Perdedores são muitos e são aqueles que se deixaram apanhar na miragem de lucros fáceis e fartos. A crise financeira que lançou o mundo na Grande Recessão teve na sua origem em algo que, segundo o economista Paul Krugman, assemelha-se a um “gigantesco esquema de Ponzi”. Alguns faziam muito dinheiro à medida que muitos outros lançavam-se a comprar casas acima das suas posses, seduzidos pela subida aparentemente imparável do valor comercial das mesmas. Sabe-se o que aconteceu quando o mundo real bateu à porta e muitos deixaram de poder pagar as amortizações mensais. Tudo veio abaixo. Um outro esquema que apresenta bastantes semelhanças com o “jogo da bolha” é o modelo preferido do PAICV de desenvolvimento com base na ajuda externa. Sustentam o jogo a cooperação externa, a ajuda orçamental, os programas de instituições internacionais como o Banco Mundial. Os programas de ajuda em doações ou empréstimos, ao longo do tempo, vão se justificando com os avanços, muitas vezes aparentes, nos índices de desenvolvimento e de governança e na modernização e competitividade da economia. Mas raramente há retorno adequado dos investimentos seja em emprego, seja em crescimento. A realidade é que ano após ano a situação das populações não muda significativamente, a desigualdade social aumenta e a disparidade entre o campo e as cidades, em particular a cidade Capital, acelera. Á volta do Estado/gestor da ajuda cresce uma elite cúmplice e engajada em perpetuar a situação de dependência das populações porque é nessa gestão que reside a fonte dos seus rendimentos e do seu poder. Entretanto pelo país proliferam, como num cemitério, marcas deixadas por projectos sucessivos da cooperação externa sem que resultados práticos, perenes e sustentáveis sejam visíveis nas comunidades, nas famílias e nas pessoas. Elefantes brancos resultantes de investimentos feitos mais por razões de prestígio e de expedientismo político do que por razões de natureza económica e estratégica completam o quadro. A economista zambiana Dambisa Moyo ilustra muito bem essa questão no seu livro “Dead Aid”. O problema com tais esquemas é que, a exemplo de todos os jogos da bolha, o estouro final acaba sempre por acontecer. Assim, da fase de doações passa-se à da dívida concessional e posteriormente à dívida comercial que poderá, rapidamente, revelar-se incomportável e dar origem à reestruturação da dívida soberana com todas as suas consequências. Os sinais, que se está a chegar ao limite, notam-se nas dificuldades crescentes em conseguir financiamentos nas condições anteriores. Cabo Verde está queimar os seus últimos cartuchos com as linhas de créditos conseguidas de Portugal. Os investimentos feitos falharam em criar emprego a curto prazo e mostram-se duvidosos em termos de proporcionar crescimento a médio, longo prazo. Contribuíram porém para se ultrapassar os limites do endividamento sutentável e o FMI já extraiu do Governo do PAICV a promessa de que 2011 vai ser o ano do apertar do cinto. Como em todos os momentos em que a “bolha” rompe-se, sofrem os mais os pobres e vulneráveis. O Governo finge não saber da situação difícil do país e do contexto internacional também difícil que vai ser o ano 2011 com a subida do preço do petróleo, dos cereais e dos minérios. Segundo o jornal Financial Times da segunda-feira , calcula-se que o aço em 2011 vai sofrer um aumento de 66%. Com todos estes dados, o PAICV, em tempo de eleições, promete “mais do mesmo” como se nada estivesse a acontecer. Simplesmente para se agarrar ao Poder por mais cinco anos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Está aí um artigo honesto, que alerta para os graves problemas que Cabo Verde vai enfrentar.
Nos meus artigos lancei também alertas às elites do poder. Ao perder 35 anos de oportunidades e de um mundo com ventos de boa feição o futuro de Cabo Verde poderá ficar muito periclitante e o diabo é que o povo continua a dançar funaná, nem sabe o que está para a frente. Depois se a corda rebentar hão de encontrar novos bodes expiatórios e salvadores da pátria.
Efectivamente, Cabo Verde é uma enorme bolha especulativa política (no sentido figurativo) que pode rebentar como aconteceu com a bolha financeira da Irlanda a Grécia etc. O problema é quando rebentar não haverá ninguém para amparar, pois aqui não são dinheiros, mas expectativas, sociais políticas e económicas, mentiras, megalomanias engendradas desde 74, um verdadeiro problema bicudo. Foi montado em 40 anos um esquema de Ponzi sócio- político e de expectativas insustentável. O próximo governo vai ter uma autêntica batata quente nas mãos. Se for honesto vai ter que procurar uma nova via para Cabo Verde e ter um discurso de verdade. Tudo isto não é fácil. Haverá duas possibilidades a explorar através de autênticas parcerias com EUA ou a EU para assegurar fundos estruturais.
Abraço
Djô

Anónimo disse...

É preciso que as pessoas entendam que o PAICV sabe desta situação, mas luta fortemente para se manter no poder porque há interesses muito perigosos por trás.

Por um lado, pretende continuar com as "Obras" sem concurso público, certamente uma fonte apetecivel para angariação de comissões; por outro continuará servindo de máquina de lavar para dinheiros Camaradas provenientes de África que entram em malas "diplomáticas", depositadas em Bolsas com Valores, dirigidos a nvestimentos imobiliários e bancários (Uma espécie de porto seguro para futuras emergencias).

Quanto ás consequências, os que ficarem que aguentem!!! Quando os famosos "indices" começarem a regredir, as Instituições Internacionais não devem se importar de nos enviar umas esmolas para irmos comendo.

Para o PAICV, que se danem as aspirações ao desenvolvimento de uma Nação, que não quis receber a LUZ e GUIA da estrela negra.

Ou seja, o PAICV é telecomandado pelos interesses OBSCUROS ou então são demasiadamente INCOMPETENTES. O pior, que em termos de probabilidades, a primeira é muito mais forte que a segunda situação