Um terceiro mandato do PAICV constitui um desafio enorme para a democracia caboverdiana. A cultura política de exploração de dependência e vulnerabilidades das populações, a vontade explícita de se confundir com o Estado e tudo controlar e a dificuldade notória em lidar com o pluralismo podem fazer o País, nos próximos cinco anos, atrasar-se ainda mais na consolidação da democracia. Um obstáculo de peso dificulta esse caminho: o MpD. Vencido nas eleições de 6 de Fevereiro, o MpD com mais de 94 mil votos dos eleitores caboverdianos e com 32 deputados em 72 deputados é uma força poderosa de oposição do Governo e de fiscalização da actividade governativa. Sabendo isso, compreende-se porque na sequência da vitória eleitoral o Paicv ainda continua na ofensiva para o enfraquecer e eventualmente tornar a sua oposição um exercício de somenos importância ou quase inócuo. Cabe ao MpD reagir e pôr-se em posição de, a todo o momento, ser capaz de mostrar aos caboverdianos que há um caminho outro, diferente e mais profícuo, que o apresentado pelo partido no Governo. O MpD nasceu num momento histórico grandioso que viu regimes inimigos da liberdade cair como dominós sob o impacto da pressão do povo que queria respirar liberdade e ter esperança numa vida melhor. O MpD foi o instrumento desse movimento universal em Cabo Verde. Cumpriu o seu papel histórico de dotar o país de uma Constituição moderna e de introduzir as reformas essências para reinserção da economia nacional no mundo, preparando-o para beneficiar de investimentos estrangeiros, da dinâmica do comércio internacional e dos frutos da iniciativa e criatividade individual e privada dos seus fillhos. Na linha do seu passado grandioso tem um papel central em insistir que o país caminhe com os próprios pés e se liberte da cultura de dependência que, a olhos de todos, está a limitar a liberdade dos caboverdianos e diminuir as suas opções. Naturalmente que a ausência de poder por mais os cinco anos, que vêm adicionar aos dez anos anteriores, serão duros, mas ultrapassáveis. Recentemente o partido conservador britânico regressou ao poder após quinze anos na oposição. Na década de noventa o partido trabalhista tinha realizado a mesma façanha. Por conseguinte não é estranho na democracia que isso aconteça e que nos anos fora de poder várias lideranças tenham dirigido o partido sem os sucessos desejados ao nível nacional. O importante é que o partido se mantenha essencialmente intacto, seguro nos seus princípios e efectivo na actuação como oposição. A adequação aos desafios sempre renovados da governação pode chegar a um ponto em que se verifique uma espécie de mudança geracional do tipo que aconteceu com Tony Blair nos anos noventa e com David Cameron no ano passado. A acontecer no decurso dos próximos cinco anos no MpD, provavelmente será vantajoso que o processo seja conduzido com a presença de Carlos Veiga, o líder histórico, na direcção do partido. O MpD tem em seis meses que se preparar para as eleições presidenciais que são fundamentais para imprimir equilíbrio e moderação ao sistema político. As eleições municipais a realizarem-se em um ano e três meses são também importantes para se garantir o quadro autárquico plural capaz de resistir ás investidas da centralização do Poder e imprimir uma nova orientação e vigor ao Poder Local. Por tudo isso, é de maior importância que o Dr. Carlos Veiga se mantenha a frente do MpD até à próxima convenção nacional desse partido.
1 comentário:
Estou plenamente de acordo consigo, Dr. Humberto Cardoso. Ao contrário do que diz o Sr. Miguel Sousa, que considero devido à ressaca da derrota, sou pela continuidade do Dr. Carlos Veiga à frente do Partido até à Convenção. Pois,para mim o derrotado dessas eleições não é apenas o MPD, o seu líder, mas todos nós que amamos a democracia e queremos vê-la consolidada neste país. Seria um contrasenso pensar na desistência do Dr. Carlos Veiga, sabendo que esteve em jogo pelos lados do PAICV a sua destruição política pessoal, como forma de sentirem-se mais à vontade e fazerem aquilo que a democracia desaconselha. De todos os ângulos que podemos ver, notamos que o Dr. Carlos Veiga bateu-se muito bem, mas foi impotente para ganhar não só as eleições como toda a máquina colocada no terreno pelo governo e o partido que o suporta. Todos os meios serviram os fins e na minha opinião, segundo já referi, não foi o Dr. Carlos Veiga o derrotado, mas sim todos nós incluindo JMN e todo o Estado Cabo-verdiano, porque acredito que o futuro dirá que não há razões ponderosas para se falar da consolidação da democracia nestes 10 anos que estivemos à frente do mesmo governo e, creio que o pior está para vir nestes mais cinco anos. Vimos que as instituições fundamentais para a democracia, uns não funcionaram, outros mal e outros muito mal mesmos e ainda outros por instalar. Por isso caracterizo esta como uma década perdida em vários aspectos e disso podem gabar aqueles vulneráveis que acabaram por se venderem apesar de tudo. Reunam, discutam, estabeleçam acordos, discordem, mas com o espirito único e diferente daquilo que o governo nos vem brindando. Pois, para mim, digo com toda a sinceridade e na qualidade de um simpatizante desde à primeira do MPD, que preferiria que este partido esteja na oposição do que conseguí-la pelas formas e métodos que o PAICV tem vindo a utilizar. Para mim o MPD, não deve dar a história a razão de dizer que contribuiu para os males que a sociedade no seu todo pode vir a enfrentar. Quero que continue a dar lições de ética, de seriedade, de moral e dignidade à população, independentemente do estatuto social de cada qual. Mantenho firme e convicto que a sociedade saberá tirar as conclusões devidas e tomar as posições que se impõem num futuro que em breve não se prevê muito bom para ninguém. Deus nos há-de acudir a todos.
Enviar um comentário