Na sexta-feira próxima, dia 4 de Novembro, vai-se realizar mais um debate sobre o desenvolvimento de São Vicente. Para alguns mais cínicos, trata-se de mais um exercício do “pessoal de São Vicente” que não se reconcilia com o facto que hoje a ilha toca um longínquo segundo violino no concerto nacional. A realidade porém é bem outra. São Vicente está na situação de ter a maior taxa de desemprego, porque não se conseguiu pôr realmente de pé uma economia nacional que permita o desenvolvimento equilibrado das ilhas e viabilize de facto o país. A opção tem sido de focalizar na captação de fluxos externos com particular foco nas doações e nos fundos concessionais. E isso leva inevitavelmente à macrocefalia da Capital em detrimento das outras ilhas e do interior da ilha de Santiago. Reequilibrar as coisas, passaria por dinamizar vários pontos do país com o estímulo de uma procura externa de bens e serviços. Uma grande oportunidade foi desperdiçada a partir de Maio de 2007 em que, na sequência do Conselho de Ministros em São Vicente, o governo sistematicamente empatou todos os projectos de imobiliária turística previstos e já aprovados para ilha. O impacto desses projectos em São Vicente e em todo o país seria muito diferente do que empreendimentos de mesma envergadura têm nas ilhas do Sal e da Boa Vista. São Vicente juntamente com Santo Antão tem vários atributos, designadamente uma população conjunta próxima de 150 mil pessoas, um tecido empresarial mais denso, escolas e centros de formação mais experimentados e actividade sócio-cultural mais rica. O efeito de arrastamento sobre a economia local e sobre a economia nacional seria seguramente mais pronunciado e mais enriquecedor da nação, seja nos novos empregos gerados, seja no aumento geral dos rendimentos das pessoas. O efeito sentir-se-ia na criação de múltiplos destinos para as migrações internas, numa maior confiança e autonomia da sociedade civil e na mudança de atitude das pessoas no sentido de mais solidariedade, mais civismo e optimismo em relação ao futuro. O país assim equilibrado, poderia planificar melhor o crescimento dos centros urbanos. A Praia, particularmente, seria poupada à enorme pressão demográfica que actualmente sofre e que causa à cidade e ao país problemas gravíssimos, designadamente de segurança, saneamento, saúde pública, habitação e infraestruturas. Enganam-se em parte aqueles que dizem que este estado de coisas é devido à centralização do Poder na Praia e que a solução seria simplesmente partir para a regionalização administrativa ou política. A centralização resulta de uma opção de política que privilegia a captação de fluxos externos em detrimento da criação de capacidade nacional de produção e exportação de bens e serviços e de atracção de investidores e capitais estrangeiros. A gestão centralizada dos recursos põe o Estado no topo da “cadeia alimentar” e ajuda a construir a malha de favores, facilidades e acessos especiais que no momento certo podem ser traduzidos em apoio político. A luta pelo desenvolvimento das ilhas passa por libertar-se da estratégia de desenvolvimento que tem perpetuado certas elites no poder, aumentado a desigualdade social, marginalizado as ilhas, votando milhares ao desemprego e ao emprego precário. A crise está aí. Temos de mudar de rumo como muitos outros países muito mais desenvolvidos foram forçados a fazer.
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