Editorial 150º
O Expresso das Ilhas atingiu o marco de publicação ininterrupta de um editorial em 150 números do jornal. Provavelmente um caso inédito nos anos de liberdade de imprensa em Cabo Verde. Os editoriais, perfeitamente destacados numa página específica (pag. 2), exprimem a opinião do jornal e não deixam dúvidas quanto à sua posição sobre matérias de relevância pública.
Com os seus editoriais, o Expresso cumpre uma das suas funções que é a de contribuir para o pluralismo de opiniões. A opção pela transparência torna mais fácil a outra função de participar na formação da opinião pública através de notícias, reportagens e entrevistas apresentadas com equilíbrio e objectividade. A experiência dos jornais de referência em todo o mundo demonstra que quando se definem claramente os espaços de opinião diminui-se a tentação de salpicar e contaminar as peças jornalísticas com opinião, especulação e meias verdades.
O Expresso das Ilhas continuará a seguir por essa via porque está convicto de que por aí todos – leitores, jornalistas e imprensa – ganham.
Convenção do MpD
O Movimento para a Democracia renova a sua direcção com a mira nas eleições de 2016. Para a nova equipa a caminhada de cerca de 2 anos e meio não será tarefa fácil. Mas é ao longo dela que eventualmente ganhará a têmpera, a combatividade e o foco necessários para confrontar o Paicv entrincheirado quinze anos no poder.
As dificuldades em fazer o partido ir além da “gestão carismática” do dr. Carlos Veiga e ser organizativamente mais autónomo, mais dinâmico e mais efectivo não serão poucas. Em simultâneo terá que afirmar-se como alternativa a uma governação que cada dia mais cria a impressão de estar num estado de negação da realidade dos factos.Uma grande luta deverá ser conduzida para levantar a cortina de fumo que paira sobre o país e esconde o crescimento raso (média dos últimos três anos 1,4% do PIB), o desemprego crescente e a dívida pública pesada posta em 83 por cento pela ministra das Finanças, e estimada pelo BCV, pelo FMI e pelas agências de rating em 95% do PIB.
Cabo Verde, à beira de mais uma recessão, vive uma crise em grande medida provocada pela miopia das políticas do governo. Os governantes só agora parecem ter acordado para a necessidade de deixar a economia de reciclagem da ajuda externa. Apontam-se clusters como soluções e transmitem-se sinais de promoção de uma espécie de “regresso ao campo”. Ao mesmo tempo dão conforto à administração pública de que não será afectada pela crise, nem que para isso se sacrifique sectores da economia nacional com mais impostos e taxas.
Caminhos de crescimento e desenvolvimento terão que ser encontrados para o país. Fundamental para o processo será a participação activa, crítica e firme da oposição. Em tempos de crise precisa-se de mais pluralismo e mais contraditório e menos conformismo e falsos consensos. Da nova liderança do maior partido da oposição com o dr. Ulisses Correia e Silva espera-se que traga dinâmica que ajude o país e a sociedade a mudar os métodos e as atitudes para melhor se adaptar aos desafios de hoje e atingir o desenvolvimento desejado.
Morreu Bana
Bana morreu aos 81 em Lisboa. Pelos seus mais de sessenta anos de carreira artística pode-se supor que a maioria da população actual de Cabo Verde cresceu ouvindo a sua voz cantando mornas de B.Leza, Eugénio Tavares, Lela de Maninha, Luluzinho, Jorge Monteiro e de muitos outros compositores de todas as ilhas. Como provavelmente ninguém mais, Bana soube sempre transmitir a essência da morna vivendo como ele viveu com quem as compôs. Da mesma forma, a coladeira de Frank Cavaquim, Ti Goi, Manuel de Novas encontrou nele o grande intérprete. Bana, o m´nin de S.Cente sabia transmitir o tom de troça, de “crítica” e de intriga, mas sem maldade da coladeira.
O Expresso das Ilhas apresenta as suas sentidas condolências à família e aos amigos do Adriano Gonçalves, Bana.
Editorial do Jornal Expresso das Ilhas de 10 de Julho de 2013