O MpD organizou sábado dia 18 de Setembro, na cidade da Assomada, Santa Catarina, um encontro de reflexão sobre a agricultura caboverdiana. Pelos temas desenvolvidos, designadamente no do “Agricultura no Cluster do Turismo” vê-se que o principal objectivo do evento foi encontrar vias para fazer da agricultura uma actividade de peso na economia caboverdiana. E isso por uma razão simples: uma percentagem significativa da população vive da agricultura e a maioria dos pobres do país está nas zonas rurais. Conseguir rendimentos que retirem da pobreza milhares pessoas, fazer da agricultura um sector atractivo para investimentos privados e mobilizar recursos para que o campo seja requalificado e sirva o eco turismo e o turismo rural são metas atingir. Implicam uma orientação determinada e consequente para o mercado e uma especialização em produtos de grande valor acrescentado, considerando a escassez de terra arável e de água. O passado dá pistas quando assinala que se alguma prosperidade na agricultura houve outrora foi quando pontualmente se beneficiou de exportações como o de café e da banana. A agricultura de subsistência complementada por produtos de baixo valor acrescentado mantém as pessoas numa vida precária, dependente das chuvas, dependente de familiares e cada vez mais dependente do Estado. Sempre os agricultores procuraram fugir ao círculo vicioso e inevitavelmente empobrecedor, refugiando-se em produtos que pela sua natureza, eram considerados menos arriscados. O Grogue foi a solução encontrada particularmente em ilhas como S.Antão. Tinha mercado certo e não se deteriorava em caso de dificuldades de acesso. A desregulamentação completa do sector de produção da aguardente levou à situação em que efectivamente “o mau grogue deslocou o bom grogue”, com todas as consequências que se conhecem no plano económico, mas também no aspecto social como o alcoolismo e a violência juvenil. É evidente que haverá ganhos a todos os níveis se houver visão e vontade política para se regular o sector e dirigir o grogue de base na cana sacarina, produzida com controle de qualidade, para o mercado com potencial de expansão como é mercado étnico. Também o turismo poderá vir a revelar-se um mercado de expansão para agricultura caboverdiana. O que pressupõe equacionar e resolver o problema do acesso a esses mercados, estruturar a oferta para, de forma fiável e sustentável e ao nível dos padrões europeus alimentá-los e ainda identificar nichos em que produtos caboverdianos teriam vantagens comparativas sobre produtos importados. Problemas nada fáceis de resolver. Cabo Verde é um arquipélago, as facilidades criadas de acesso directo dos turistas ás ilhas também beneficiam importações directas. Por outro lado desenvolver nichos de mercado competitivos vão obrigar a uma estruturação rigorosa da oferta nacional em termos de processos e à diminuição drástica de custos de transacção e de contexto actualmente existentes. Encontrar produtos de grande valor acrescentado que garantam retornos de capital atractivos e níveis de rendimento adequados e sustentáveis deve ser o principal foco das acções no sector. A possibilidade de usar o óleo da purgueira como biodiesel deve ser energicamente investigada. O mercado nacional do diesel está acima dos 90 mil toneladas desse combustível. Substituir 10, 20, 30 ou mais % por óleo produzido localmente teria consequentes extraordinárias no rendimentos das pessoas, efeitos macroeconómicos favoráveis para além do impacto ambiental derivado do aproveitamento dos terrenos das zonas semi-áridas do país. Outros países, grandes e pequenos, criaram através de legislação o seu mercado de biocombustíveis. E agora colhem os benefícios disso. Cabo Verde também deve ser ousado e não deixar de explorar o que pode vir a revelar-se um mercado anual de milhões de dólares com directo impacto no mundo rural.
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