No Conselho de Ministros da semana passada, o Governo anunciou a adopção de uma política para a imigração. Depois de anos seguidos a varrer o problema debaixo do tapete, eis que toma consciência do facto de que Cabo Verde é um arquipélago com uma diminuta população e predispõe-se a conter as consequências da imigração desregrada vinda principalmente da África Ocidental. Demasiado tarde, dirão muitos. O mal já está feito. Outros continuarão a argumentar ingenuamente que, sendo um país de imigrantes, Cabo Verde não devia opor-se também a tornar-se destino para os outros. Esquecem a condição insular do país e ignoram a descaracterização sócio-cultural que particularmente as ilhas menos populosas poderão sofrer com o crescimento rápido e não planeado de uma população não autóctone. Mas a inacção do Governo face à imigração descontrolada não foi completamente inocente. Serviu vários outros propósitos, designadamente o de justificar a falta de acções determinadas e consistentes para promover o emprego e conter a expansão da economia informal. Dizia-se que muito do desemprego entre os jovens resultava de se recusarem a trabalhar. E a prova eram os imigrantes empregados. Ao mesmo tempo romantizava-se a “economia do Sucupira” porque supostamente criava emprego. Agora, o Governador do Banco Central vem revelar que a persistência de informalidade no mercado do trabalho simplesmente contribuiu para que se adiasse a tomada das medidas indispensáveis para o tornar flexível e fazer o país mais competitivo. Aparentemente tapava-se um buraco com o trabalho precário dos imigrantes, mal pagos e sem protecção da previdência social mas outros buracos surgiam. Como ele próprio diz “a informalidade constitui um dos mais sérios obstáculos no acesso ao financiamento, limitando o investimento privado e o crescimento da economia”. Naturalmente que sem um forte ritmo de crescimento da economia não há como criar empregos. Os custos de por demasiado tempo o governo ter ignorado os problemas e os confrontar decididamente são cada vez mais evidentes. A crise de 2008 deveria ser o grande alerta. Não foi porque havia uma eleição a ser ganha e havia que manter todas as ilusões de blindagem contra a crise, de criação do salário mínimo e de se generalizar o 13º mês. O ilusionismo do Governo persiste. Continua a procura de influxos externos que lhe permitem continuar a camuflar os problemas reais do país sem preocupação com a insegurança, a desigualdade social e a marginalização das ilhas que a persistência em tal modelo de governação gera. Assim fez no passado e, apesar de o sr. Primeiro-ministro mostrar-se ultimamente preocupado com a crise, continua esperançoso que fará o mesmo no futuro.
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