Ulisses Correia e Silva está pronto para
ser primeiro-ministro, mas parece que não está virado para ser deputado, no
caso do MpD perder as eleições. Na reunião da direcção nacional do MpD, sábado
passado, deixou a promessa da sua renúncia ao cargo de deputado se não obtiver
vitória nas eleições de 20 de Março. O problema é que o eleitorado não elege
primeiros-ministros, mas sim deputados para a Assembleia Nacional. Quem tiver
maioria, pode constituir governo e não é obrigatório que o primeiro-ministro
nomeado pelo Presidente da República seja deputado. Supõe-se que quem se
candidata para o cargo de deputado é para servir como tal, ou como parte da
maioria governativa ou na oposição. Mostrar desdém pelo cargo de deputado é um
fenómeno em crescendo em Cabo Verde. Passa a ideia do quanto tem sido bem-sucedido
o ataque feito ao parlamento nestes últimos anos, com o disseminar da mensagem
do governo que “dá e faz” e do parlamento que só “fala e critica”. Nos próprios
políticos nota-se uma ambiguidade. Os que têm posições executivas sentem-se
superiores e alguns até dão-se ao luxo de se juntar aos críticos que não
escondem os seus sentimentos anti-partido e anti-pluralismo. Outros, acabam por
alimentar esses mesmo sentimentos, diferenciando-se ostensivamente de
colegas que supostamente não teriam outro meio de vida, não saberiam fazer
outra coisa ou simplesmente se acomodam à caricatura do deputado “que
só bebe água e levanta o braço para votar”. A questão que se põe é se
depois do exercício anti-parlamento e do desdenhar do papel dos deputados irá
manter-se a possibilidade de convencer as pessoas, e em particular os jovens,
da importância central de se recensearem para votar e eleger uma assembleia
nacional de onde saíra um novo governo para os próximos cinco anos.
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