O jornal Público trouxe no
domingo dia 3 de Janeiro uma reportagem intitulada “Ser africano é um tabu em Cabo Verde”. Lendo os vários depoimentos
não se pode deixar de concluir que há uma crise profunda de identidade em Cabo Verde.
Parece que já não existe mais o cabo-verdiano que só depois de chegar à Europa,
como parece ter sido o caso do Corsino Tolentino e do Francisco Carvalho, é que
descobre que há gente que confunde identidade com cor da pele. Não era assim na
sua terra. Passou a ser depois quando o Estado independente dirigido pelo PAIGC/PAICV assumiu como sua missão fazer a “reafricanização dos espíritos”. A partir daí, segundo
Gabriel Fernandes, os caboverdinos não se concebem a partir de dentro,
da sua peculiaridade cultural, mas sim de fora, da sua compartilhada situação
de africanos e dominados” . Em vez de se conservar num estado fora
das tensões raciais que a sua vivência crioula nas ilhas lhe tinha
proporcionado deixou-se dividir e agora diz que é cabo-verdiano, preto e
africano. E naturalmente quando se começa a resvalar num plano inclinado a
tendência é acelerar, neste caso, encontrar razões diversas para se dividir
ainda mais: coloração da pele, mais
clara ou mais escura; lugar de origem, ilhas a norte ou a sul; badios e
sampadjudos; descendentes de escravo, resistentes ou colaboracionistas, etc.
Tudo pode ser motivo de divisão e de polarização e consequente discriminação até
se chegar ao absurdo da afirmação do Abrãao Vicente nessa reportagem de que “O poder acaba por filtrar o negro. Ulisses
Correia da Silva, presidente da Câmara da Praia, é o primeiro santiaguense
preto a candidatar-se a primeiro-ministro. Todos os outros foram mestiços,
mulatinhos.”
Publicado no Jornal Expresso das Ilhas de 6 de Janeiro de 2016
Publicado no Jornal Expresso das Ilhas de 6 de Janeiro de 2016
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