Ao adoptar-se a via
inédita das sondagens para escolher candidatos a deputado os resultados só
podiam ser os que foram revelados na sequência da direcção nacional do MpD do
dia 16 de Janeiro: menorização do parlamento e fragilização do futuro grupo
parlamentar. De facto, viu-se como agendas locais passaram a dominar o
parlamento nacional e, seguindo essa lógica, como foram sobrevalorizados os que
alguns chamam pejorativamente de “deputados de cutelo”. Também se pode
perfeitamente ver como as referências nacionais entre os futuros deputados se concentraram
ainda mais no círculo eleitoral de Santiago Sul. Afinal, a pretensa
“regionalização” do parlamento nacional parece que vai resultar em ainda maior
centralização, não obstante todo o discurso em sentido contrário. Mais um caso
em que se demonstra que os extremos se tocam e quando se aliam causam estragos
graves em diversidade e pluralismo. Uma outra consequência sente-se
na própria coesão do grupo parlamentar. Tanto a estabilidade
governativa, em caso de vitória, como a eficácia do exercício de oposição ao
governo, em caso de derrota, dependem de se ter um grupo unido e capaz. Pôr os
deputados em luta entre si por notoriedade exterior dificulta a divisão de
tarefas e funções no grupo parlamentar, mina a solidariedade entre os seus
membros e não deixa que se desenvolva espírito de lealdade no acesso e troca de
informações. É evidente que problemas de representação podem ser sempre
colocados. Não se pode é tentar resolvê-los ignorando que se tem um sistema
eleitoral de listas fechadas, apresentadas exclusivamente por partidos.
Fragiliza-se o parlamento e o sistema de pesos e contrapesos no sistema
político, sem ganho algum para a democracia.
Publicado no jornal Expresso das Ilhas de 20 de Janeiro de 2017
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